quarta-feira, 12 de agosto de 2020

 

TASCAS E ANTROS DE PRAZER - X


A ARTE DE ASSAR O BICHO...

Não foi por ter passado pela BAIRRADA que o subconsciente das minhas papilas gustativas me sugestionou que tinha que aproveitar a ocasião para matar as saudades de leitão assado, aliás pode-se comer muito e bom leitão por esse país fora e muitas vezes fica-se a ganhar tanto na qualidade da iguaria como no peso da factura, mas vindo da Anadia para Penacova pelas estradas secundárias que bordejam as encostas da Serra do Buçaco e passada a Espinheira surge de rompante à direita o letreiro  "LEITÃO DO AIRES", e meus amigos, a paragem é obrigatória!


"A esplanada do Aires" - Jean-Charles Forgeronne

Nestes dias pandémicos que correm o espaço e o ambiente interiores estão diferentes, nada daquelas compridas mesas corridas onde há anos nos acotovelámos às dezenas em alegre algazarra na véspera de descer o Mondego de canoa, agora isso deu lugar a pequenas mesas perdidas num enorme espaço vazio e parece que voltamos à escola primária do antigamente com as alminhas de castigo a olhar para a parede e de costas voltadas para os outros, só falta mesmo encarapuçar as orelhas de burro...



Mas nem tudo a pandemia piorou, em especial à hora de almoço em que para aqueles que gostam de chegar cedo os aguarda uma ampla e sombreira esplanada, de generosas mesas que catam a brisa que desce da serra e então, quando alguém simpático nos vem perguntar ao que vimos, claro, leitão, mas antes venha um pãozinho com azeitonas bem temperadas e uma garrafa de frisante da casa bem fresquinho para nos espreguiçarmos na cadeira, fecharmos os olhos por um instante e, talvez seduzidos pelos odores que nos chegam das outras mesas, sentir-mo-nos por uns instantes numa espécie de paraíso... 



E depois quando chega o bicho, assado no ponto, pele crocante mas não seca em demasia e a carne tenra a desfazer-se, tudo simplesmente acompanhado por batata frita irrepreensível e uma generosa salada de alface, é hora de nos calarmos e simplesmente interiorizar todo aquele prazer... E se fosse necessário apontar algo que torna este leitão assim tão especial então diríamos que é o molho, secreto e divinal! "Quer levar para casa?" - ainda me lança o Aires apontando para ele, ao que eu provoco: - "Só o levo acompanhado da receita!", "Isso..." 
E para quem não gosta de leitão, paciência e ânimo porque há muitas outras opções, seja bacalhau no forno, polvo à lagareiro, carnes grelhadas ou um frango assado a desfazer-se que também tem muita saída...


João Ratão
(Chef de Valmedo)

Sem comentários:

Enviar um comentário