À ESPERA DOS AMIGOS DE PENICHE...
Em Julho de 1380, passam agora 640 anos, uma frota de 48 navios entrava no Tejo com 3000 soldados ingleses a bordo, cavaleiros e archeiros veteranos da Guerra dos Cem Anos que vinham com o intuito de ajudar o rei D. Fernando na guerra contra Castela... O rei, ao que parece formoso mas um desastre como estratega político e chefe militar, cedo se arrependeu pois assim que chegaram a terra aqueles seus supostos aliados logo se comportaram como os mais sanguinários inimigos, por onde passavam deixavam um rasto de morte e destruição: matavam a eito, roubavam, comiam a bem ou a mal o que lhes apetecesse, destruíam, para além de violar as mulheres que encontravam pelo caminho...
Tentou D. Fernando emendar a mão ao enviar o contingente inglês para o Alentejo com a missão de defender a fronteira mas aí a sorte não foi melhor, imediatamente os ingleses voltaram ao mesmo, atacando e pilhando Borba, Monsaraz e Redondo e torturando o povo para que este lhe dissesse onde se escondiam os mantimentos! O desmando inglês foi de tal ordem e a insatisfação do país era tal que D. Fernando, aquele de quem Camões disse "Um fraco rei faz fraca a forte gente", preferiu fazer a paz com Castela, afinal guerra ou paz com os espanhóis era tudo igual para ele pois levou o país à miséria ao sujeitá-lo a três desastrosas guerras apenas por interesse pessoal e ainda por cima o corno, ao morrer com 38 anos de idade e ao não deixar varões que lhe sucedessem ao trono, a última obra que deixou foram mais dois anos de crise e mais guerra...
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"D. Fernando pedindo auxílio a Eduardo III" - Jean Wavrin |
A memória é tão curta e a história dá tantas e estranhas voltas que passados apenas 6 anos sobre estes tristes acontecimentos, em 1386, um Portugal decerto vítima de Alzheimer iria renovar a Aliança Anglo-Portuguesa de 1373 através do Tratado de Windsor, curiosamente o tratado de amizade e cooperação diplomática mais antigo do mundo e que parece continuar em vigor hoje em dia, tendo sido selado com o casamento de D. João I, então recém eleito rei de Portugal, e D. Filipa de Lencastre... Para que serve esse tratado poder-se-á perguntar se atentarmos nas provas das "boas" relações de amizade entre os dois países, como aconteceu dois séculos depois da sua assinatura, em 1589, quando na praia da Consolação, à beirinha de PENICHE, desembarcaram 6500 soldados ingleses e que faziam parte de um exército de vinte mil homens que vinham sob o comando do famoso Francis Drake apoiar D. António do Crato na conquista do trono... E enquanto Drake, ao largo de Cascais, com os seus impacientes navios aguardava que as forças terrestres vindas de Peniche cercassem Lisboa para avançar, essas tropas inglesas iam avançando lentamente porque, como dois séculos antes, iam saqueando, destruindo e violando as terras de Atouguia da Baleia, Lourinhã, Torres Vedras e Loures...
Enquanto isso, dentro da cerca de Lisboa, os apoiantes do prior do Crato interrogavam-se: "Mas afinal que se passa com os nossos amigos de Peniche? Quando chegam eles?"
Pois bem, esses amigos nunca chegaram, mais atacados pela peste do que por batalha daqui abalaram de rabo entre as pernas sem prestar para nada! São até hoje e para sempre serão afinal os amigos de Peniche, falsos amigos como Judas! E hoje em dia, ainda Portugal, novamente padecendo de Alzheimer, suspira pelos turistas mal comportados daquelas ilhas miseráveis, é que se diz que de Espanha "nem bom vento nem bom casamento" então da velha Albion só se pode concluir que dali virá "nenhuma amizade e muita tempestade!"... Raios os partam, diria Camões...
E já agora, digo eu, que nunca mais fiquemos à espera da ajuda destes merdosos amigos de Peniche!
João Alembradura
(Historiador de Valmedo)
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