LENDAS E NARRATIVAS - XIII
OS AMORES, AS ILUSÕES E AS LÁGRIMAS...
Longe de mim a ideia de dar conselhos a quem quer que seja mas hoje vou arriscar e começar mesmo por aí mas apenas porque dá um certo jeito a esta pobre narrativa, amigo leitor do mundo-cão, e assim permita que lhe peça para que não se deixe iludir muito com histórias imprecisas, narrativas tendenciosas ou simples crendices baseadas na ignorância, a menos, claro está, que isso lhe dê satisfatório prazer e nesse singular caso nem eu nem ninguém terá o direito de opinar seja o que for... E agora que estamos esclarecidos falemos do que importa aqui, das ilusões que são propagandeadas para criar falsos acontecimentos fabulosos que depois são utilizados como ferramentas de ideologia política ou condicionamento social, senão repare na fotografia abaixo e sabendo que se trata da imagem mais conhecida da "Fonte dos Amores", em plena Quinta das Lágrimas por onde há muitos anos atrás se amaram Pedro e Inês, poderia o amigo leitor ser sugestionado a convencer-se de que o mais famoso e trágico par romântico da história lusa se tinha encontrado ali inúmeras vezes e trocado eternas juras de amor sob as famosas porta em arco e janela neo-góticas...
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"Fonte dos Amores" - Jean-Charles Forgeronne |
Mentira! Esse belíssimo conjunto, ali mesmo à beira de uma fonte de água cristalina e que dá acesso aos mistérios da mata da quinta e que lhe proporciona uma aura ainda mais romântica apenas foi construída no século XIX, isto é, mais de quinhentos anos após as aventuras amorosas do príncipe e da sua amada... É caso para dizer que para uma paixão assim tão pungente basta a sombra e o recolhimento de uma árvore ou de um singelo arbusto, e isso por ali nunca faltou desde que a avó de D. Pedro, a Rainha Isabel, mandou construir um canal para levar a água de duas nascentes que dali brotavam para o Convento de Santa Clara. E se a uma das fontes, pela óbvia razão de ter sido testemunha dos namoros secretos do infante e da fidalga foi dado o nome de FONTE DOS AMORES, a outra, culpa de Camões ao que parece, ficou para sempre conhecida como a FONTE DAS LÁGRIMAS...
De facto, poetizou Luiz Vaz e acreditou piamente o povo que esta fonte é alimentada pelas lágrimas brotadas por D. Inês ao ser assassinada e que aquele tom avermelhado que se nota no fundo é o seu sangue derramado, embora tudo não passe do efeito causado por umas algas vermelhas que vivem agarradas ao leito rochoso do curso de água... Acredite-se ou não, lenda ou facto, o certo é que, como alguém disse, os amores trágicos e intemporais de D. Pedro e D. Inês foram mesmo reais e embora alguns pormenores da história possam ser artificiais eles aconteceram de facto, ao invés de outros romances que foram inventados e hiperbolizados pela pena ou pela imaginação popular, casos de Romeu e Julieta ou Tristão e Isolda!
E se por acaso um dia destes arriscar uma visita pelas fontes dos amores e das lágrimas não se esqueça que outras coisas há por lá que merecem atenção, como seja uma sequóia gigante plantada pelo próprio Duque de Wellington quando ali pernoitou em 1813...
João Alembradura
(Historiador de Valmedo)
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