sábado, 15 de agosto de 2020

                                    
                     HAVERÁ PÉRGULA MAIS LINDA?

Uma PÉRGULA, segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é uma espécie de galeria coberta de barrotes espaçados assentados em pilares e geralmente guarnecida de trepadeiras, e se lermos na íntegra e com atenção ficamos ainda a saber que também se pode escrever pérgola pois a palavra deriva do latim pergúla que significa balcão, sacada, galeria exterior... Mas há quem lhe chame ainda ramada, como àquela de Penacova, como os mais atentos podem ler numa placa velha de 100 anos que está embutida na parede do vetusto prédio que alberga o café que tem a esplanada com a mais bela vista que se conhece sobre o Mondego:


"Esta ramada delindada pelo arquitecto Raúl Lino de Lisboa foi mandada construir pela Sociedade Propaganda de Portugal e oferecida pela mesma ao povo de Penacova a quem é confiada a sua guarda e conservação.  ANO MCMVIII" 

E fica-se então a saber da existência outrora de uma tal SOCIEDADE PROPAGANDA DE PORTUGAL, nome que assusta até sermos esclarecidos que a propaganda a que se refere não era política mas sim de outra ordem, não a confundamos portanto com a máquina propagandista do regime fascista que apareceria anos depois, até porque esta sociedade foi fundada em 1906 por um grupo da burguesia lisboeta ainda Salazar era um obscuro menino seminarista...  A dita sociedade, formada por gente endinheirada, culta e viajada, de cariz privado e sem apoio dos organismos públicos, tinha como objectivos contribuir para o desenvolvimento intelectual, moral e material do país através da colaboração com outros organismos e do incremento de relações internacionais, lê-se nos seus estatutos fundadores, tudo para que, resumindo, Portugal fosse visitado e amado por nacionais e estrangeiros!  Ou seja, estamos perante os pioneiros do turismo em Portugal!



E se muitos daqueles que sobem ao nobre cimo de Penacova e se abeiram sobre o magnífico panorama que lhes é oferecido sob uma prazenteira sombra acabam por se ir embora sem imaginar sequer a rica história e a magia do local, tu, amigo leitor do mundo-cão, quando lá passares, quer já conheças ou não, não te esqueças, aquela não é uma pérgula qualquer, saiu do génio de RAÚL LINO, figura de proa da arquitectura lusitana do século XX, autor por exemplo da Casa dos Patudos, em Alpiarça, ou do Teatro Tivoli, em Lisboa, pormenores de uma carreira de 70 anos dedicada à arquitectura, prática e teórica... 



E mais que não fosse, quando observares a grossura e a nobreza dos troncos das trepadeiras sobre a tua cabeça, interrogares-te-ás, terão eles 100 anos tal como a pérgula? Bem, assim parece, mas fica tranquilo, há mais de um século que toda a gente fica em êxtase e sem palavras para a beleza que dali, daquele lugar mágico, se alcança... 

E já agora, o povo de Penacova está de parabéns, não só tratou de guardar e conservar a magnífica obra como ainda faz prova de boa memória e melhor reconhecimento...



João Palmilha
(Viajante de Valmedo)

Sem comentários:

Enviar um comentário