ESOPO, LA FONTAINE, BOCAGE...
O CORVO E A RAPOSA
É fama que estava o CORVO
Sobre uma árvore pousado,
E que no sôfrego bico
Tinha um queijo atravessado.
Pelo faro àquele sítio
Veio a RAPOSA matreira,
A qual, pouco mais ou menos,
Lhe falou desta maneira:
«Bons dias meu lindo CORVO;
És glória desta espessura;
És outra fénix, se acaso
Tens a voz como figura!»
A tais palavras o CORVO
Com louca, estranha afoiteza,
Por mostrar que é bom solfista
Abre o bico, e solta a presa.
Lança-lhe a mestra o gadanho,
E diz: «Meu amigo, aprende
Como vive o lisonjeiro
À custa de quem o atende.
Esta lição vale um queijo,
Tem desta para teu uso.»
Rosna então consigo o CORVO,
Envergonhado e confuso:
«Velhaca! Deixou-me em branco,
Fui tolo em fiar-me dela;
Mas este logro me livra
De cair noutra esparrela.»
(Tradução de BOCAGE de uma recriação por LA FONTAINE de uma fábula creditada a ESOPO, escravo e escritor contador de histórias que viveu na Grécia nos anos 600 a.C...)
João Vírgula
(Leitor de Valmedo)
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