EFEMÉRIDE # 75
OS DIAS CONTADOS DO PARAÍSO...
Onde fica e como é o original e verdadeiro PARAÍSO? Pois parece que após milhares de anos de loucas buscas ainda ninguém o terá encontrado, embora haja algumas aproximações meritórias como é o caso de Sean Connery, ou antes, Robert Campbell, um cientista e investigador que fugindo da esquizofrénica civilização se refugiou na selva amazónica em busca da cura para a peste do então século XX... A verdade é que já estamos no século XXI, o qual, a meu ver, não difere muito do anterior e ambos nos mostram que a tendência aponta para que tudo vá paulatinamente piorando, e neste especial cenário de estúpida pandemia que hoje virou o mundo do avesso ressalta o óbvio: não estamos nem estaremos nunca a salvo em nenhum lugar e em nenhum tempo, não há um único paraíso, e mesmo que houvesse teria ele os dias contados, existem sim pedaços de paraíso por aí e quando um paraíso deixa de o ser há que encontrar outro!
Desculpem, deixei-me levar pela emoção, pecado menor, espero, mas quem o não cometerá depois de ver ou rever passadas quase três décadas o filme de John McTiernan "THE MEDICIN MAN"? Afinal é disso que estou a falar, do filme que em Portugal levou o título de "Os Últimos Dias do Paraíso", redutor na minha opinião e que talvez seja um dos poucos casos em que a tradução brasileira de títulos de filmes nos levou a melhor, chamaram-lhe eles e com muito mais propósito "O Curandeiro da Selva" porque isso nos transporta para um nível transcendente, para conhecimentos, práticas e mistérios ancestrais que naturalmente escapam à aburguesada e fanfarrona civilização europeia do ocidente...
![]() |
in "Público" - 22 de Maio de 1992 |
Bom, mas está na altura de pôr as ideias em ordem, passam hoje exactamente 38 anos, como é possível interrogo-me eu, que nas páginas interiores do jornal PÚBLICO é feita publicidade numa folha inteira à exibição de "Os Últimos Dias do Paraíso", estreado onze dias antes, no São Jorge, nas Amoreiras da moda e até no saudoso Nimas... E não deixa de ser curioso que, tal como hoje, 22 de Maio, era aquela uma sexta-feira de um ano bissexto! Conjugação astral?
O filme, e é isso que importa aqui, coloca em confronto dois mundos aparentemente inconciliáveis, a natureza e a civilização, dirão uns que a primeira será sempre vítima da segunda, mas também haverá muitos outros que dirão que a segunda pode progredir respeitando a primeira, enfim, no fim tudo se resume a uma questão de consciência e de humanidade, tal qual nas aventuras do nosso herói que tendo por acaso achado a cura para o cancro se apercebe de que a perdeu depois... E agora, que fazer? Recomeçar tudo de novo noutro paraíso, é o que nos diz um filme que, apesar de tudo o que se lhe possa apontar, tem o grande mérito de nos presentear com uma beleza paradisíaca, e que por acaso é real, por enquanto, é a Amazónia... Quanto ao romance e à guerra de sexos, sinceramente é o menos importante, o que conta é mesmo o paraíso e parece que em relação a isso, por mais tempo que nos seja dado, não enxergamos mesmo nada...
João Película
(Cinéfilo de Valmedo)
Sem comentários:
Enviar um comentário