O GREGO, O LATIM E OS LIVROS...

- Olha, era este o senhor! Aquele que tinha aqueles livros todos aqui na rua...
E porque diante de nós nos olhava expectante um ancião merecedor de respeito, um pé dentro de casa e outro fora, e antes que ele pensasse que o estávamos a acusar de algum crime, para desbloquear o impasse só me ocorreu dizer:
- Espero que não os tenha deitado fora!
Uma hora antes tinha chegado o Maurício à hora combinada para a nossa terapia, um jogging pelos trilhos do planalto para cuidar do físico e prevenir psicoses mentais antes que esta pandemia e este estado de emergência nos leve à obesidade e à loucura, e tinha ele dito entusiasmado: "Não sabes o que vi ali atrás, montes de livros na rua, no chão, pá!". "Ora, deve ser alguém que os está a levar para outro lado qualquer" - respondi... -"Sim, mas havias de ver, eram montes de livros!"
- Não, estava só a arranjar espaço aqui dentro para os arrumar melhor...- respondia-nos agora o alvo da nossa atenção encostando-se à porta e fazendo sinal para nos aproximarmos - Querem ver?
E então o professor Manuel Curto, depois das apresentações rápidas e de circunstância, escancarou o mais que conseguiu a porta e chegando-se para o lado limitou-se a dizer:
- Entrem, vejam...
E o que nós víamos da rua era extraordinário, milhares de revistas empilhadas por séries e datas, ele era a "Visão", ele era a "Sábado", ele era a "Science Vie", ele era a "National Geographic Magazine" que brotavam do chão e lá ao fundo, livros e mais livros, uns antiquíssimos outros mais recentes, alguns em cima de um balcão e outros dentro de estantes e por cima destas pilhas de jornais amarelecidos pelo tempo que iam até ao tecto!...
- Que engraçado, a "Visão"... Sabe, - continuei para criar laços de entendimento - tenho o número 1, e até a capa do número zero que não chegou a ser publicada! - Contente com o efeito produzido, continuei - Aliás, acho que é agora no dia 25 deste mês que se comemora o lançamento da revista em mil novecentos e oitenta e tal...
Mas como eu enquanto falava continuava a olhar o alto, o professor disse, apontando:
- Aquelas são todas as edições do "Expresso"... Sabem, esta era a mercearia do meu pai, que fechou já há muitos anos porque eu não continuei o negócio, sabem, eu era professor de Latim, Grego e Português e depois da reforma trouxe para aqui as minhas coisas... - Estão a ver ali aqueles livros, são os de latim e de grego... - Claro, via eu agora, uma antiga mercearia, os armários, a balança, o balcão e como se eu não fechasse a boca de admiração ele continuou - E lá em cima, o primeiro andar está cheio de livros, venham ver...
E o que nós víamos da rua era extraordinário, milhares de revistas empilhadas por séries e datas, ele era a "Visão", ele era a "Sábado", ele era a "Science Vie", ele era a "National Geographic Magazine" que brotavam do chão e lá ao fundo, livros e mais livros, uns antiquíssimos outros mais recentes, alguns em cima de um balcão e outros dentro de estantes e por cima destas pilhas de jornais amarelecidos pelo tempo que iam até ao tecto!...
- Que engraçado, a "Visão"... Sabe, - continuei para criar laços de entendimento - tenho o número 1, e até a capa do número zero que não chegou a ser publicada! - Contente com o efeito produzido, continuei - Aliás, acho que é agora no dia 25 deste mês que se comemora o lançamento da revista em mil novecentos e oitenta e tal...
Mas como eu enquanto falava continuava a olhar o alto, o professor disse, apontando:
- Aquelas são todas as edições do "Expresso"... Sabem, esta era a mercearia do meu pai, que fechou já há muitos anos porque eu não continuei o negócio, sabem, eu era professor de Latim, Grego e Português e depois da reforma trouxe para aqui as minhas coisas... - Estão a ver ali aqueles livros, são os de latim e de grego... - Claro, via eu agora, uma antiga mercearia, os armários, a balança, o balcão e como se eu não fechasse a boca de admiração ele continuou - E lá em cima, o primeiro andar está cheio de livros, venham ver...
E nós, porque estávamos sujos e suados da corrida e também devido ao escusado contacto social com uma pessoa de eventual risco acrescido íamos recusando, que ficava para a próxima, para outra oportunidade, até porque tínhamos que ir ...
- Combinado! Estão convidados...
E como ao lado de um calendário já prescrito se vislumbrava a máxima latina "CARPE DIEM" então, para aproveitar o dia, o momento e a oportunidade deixei fugir as palavras que já há algum tempo me entupiam a garganta:
- O professor por acaso não está disposto a dar-me aulas de latim e grego? A sério! Gostaria muito de aprofundar o meu estudo nessas línguas....
- Nunca dei aulas particulares... - respondeu-me de imediato o professor mas eu descobri-lhe uma centelha no olhar, apenas um pequeno brilho que desponta naquelas pessoas que sempre gostaram verdadeiramente de ensinar e que agora não tendo ninguém para... talvez.... quem sabe?
E lá fomos nós por entre agradecimentos e vénias embora eu estivesse a morrer de desejo para visitar o andar de cima, e agora sei-o, quando passar esta paranóia, uma das primeiras coisas que vou fazer é bater àquela vetusta porta de uma casa construída em 1937 e que alberga milhentas histórias por contar... E quem sabe se o professor BIBLIÓFILO (do grego BIBLIO - livro e PHILOS - amigo) não reconsidera e aceita ensinar-me latim e grego, assim perceberia eu melhor o português!
- Combinado! Estão convidados...
E como ao lado de um calendário já prescrito se vislumbrava a máxima latina "CARPE DIEM" então, para aproveitar o dia, o momento e a oportunidade deixei fugir as palavras que já há algum tempo me entupiam a garganta:
- O professor por acaso não está disposto a dar-me aulas de latim e grego? A sério! Gostaria muito de aprofundar o meu estudo nessas línguas....
- Nunca dei aulas particulares... - respondeu-me de imediato o professor mas eu descobri-lhe uma centelha no olhar, apenas um pequeno brilho que desponta naquelas pessoas que sempre gostaram verdadeiramente de ensinar e que agora não tendo ninguém para... talvez.... quem sabe?
E lá fomos nós por entre agradecimentos e vénias embora eu estivesse a morrer de desejo para visitar o andar de cima, e agora sei-o, quando passar esta paranóia, uma das primeiras coisas que vou fazer é bater àquela vetusta porta de uma casa construída em 1937 e que alberga milhentas histórias por contar... E quem sabe se o professor BIBLIÓFILO (do grego BIBLIO - livro e PHILOS - amigo) não reconsidera e aceita ensinar-me latim e grego, assim perceberia eu melhor o português!
João Portugal
(Linguísta de Valmedo)
(Linguísta de Valmedo)
Só uma palavra: fascinante!
ResponderEliminar