quinta-feira, 5 de março de 2020



LIVROS 5 ESTRELAS - XIX


BONS LIVROS FAZEM A VIDA BOA...


Hoje sinto-me um completo imbecil, não há volta a dar e não é a primeira nem será decerto a última vez que este estado de alma me assalta pois está provado que a imbecilidade é um vírus altamente contagioso ao qual ninguém está imune e, do mal o menos, desta vez tenho alguma desculpa porque há uma excelente razão para me sentir imbecil: terminei há minutos a leitura de "ÉTICA PARA UM JOVEM"! A todos, àqueles que conhecem a obra e que estarão confusos ao pensar porque raio me sinto imbecil depois de ler um livro excepcional, e aos outros, aqueles que nunca o leram e nem imaginam do que se trata e que provavelmente nunca o irão ler, devo uma explicação: sinto-me imbecil porque deveria tê-lo lido há décadas, de preferência quando era jovem!  "Como é possível ter-me escapado desde 1991 esta obra-prima?", questiono-me tão freneticamente como se me estivesse a coçar perante uma ataque de sarna mental... Como bálsamo, diz-me a consciência que por boa razão vale mais ser imbecil tarde do que nunca, mas ainda assim... 


Fernando Savater, filósofo, professor de ÉTICA, escritor mas essencialmente um sábio pensador, decidiu dirigir-se ao filho então adolescente através de um livro que é um iluminado e autêntico tratado sobre a liberdade ao dispor do individuo na escolha do melhor uso a dar às normas, usos e costumes que imperam na sociedade por forma a tornar a vida boa e melhor, quer a do próprio quer a dos outros... E fê-lo com mestria, humor e acima de tudo com clareza! E não posso deixar de sentir o quão injusto foi esta obra não ter nascido quando era eu um jovem, então teria eu sido iluminado sobre a ARTE DE VIVER que, na opinião do autor, não é mais do que a ÉTICA, e assim teria eu poupado a mim próprio tempo, muitos erros e trabalhos para descobrir como melhorar a existência, ao fim e ao cabo teria sido menos imbecil do que fui! E segundo Savater, a única obrigação que temos nesta vida é a de não sermos imbecis porque imbecis já há muitos por aí, e de vários tipos, a saber: 

   I - aquele que acredita que não quer nem precisa de nada, o que diz que para ele é tudo igual e que vive permanente anestesiado; chamo-lhe eu um zombie...
   II - aquele que acredita que quer tudo, isto e aquilo que lhe aparece, o branco e o preto tudo ao mesmo tempo; chamo-lhe eu o desorientado...
    III - aquele que não sabe o que quer mas que também não mexe uma palha para o descobrir, imita os outros porque sim, tudo o que faz é ditado por opiniões alheias: é o conformista sem reflexão ou o revoltado sem causa
    IV - aquele que sabe o que quer e porquê mas que às vezes não se esforça o suficiente para o obter e que acaba por perder sempre alguma coisa pelo caminho e fazendo algumas coisas que não queria fazer; é o adiador, deixa para amanhã ou para uma melhor altura, às vezes até ser tarde demais! Assim sou eu, imbecil vezes demais...
    V - aquele que quer com força e desespero, lutando para além dos limites mas que é inapto para lidar com a realidade, bastas vezes por falta de cultura ou de ética; geralmente acaba mal em grande desastre...

Assim, amigo leitor, é só escolher o grau de imbecilidade com o qual mais nos identificámos e já será uma sorte se só o fizermos uma vez por outra porque se a coisa for frequente então é melhor mudarmos de vida...  E conclui Savater: "Alerta! Em guarda! A imbecilidade ronda e não perdoa!"


João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)

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