EFEMÉRIDE # 61
AS MARAVILHOSAS CABEÇAS FALANTES...
40 anos! E parece que foi ontem... Pode parecer piroso, e talvez o seja mesmo, mas arrisco dizer que o tempo é definitivamente uma coisa muito relativa, como é então possível terem passado quatro décadas sobre aquele momento em que fui comprar o "FEAR OF MUSIC" à velhinha loja de discos da velhinha Rua Almirante Reis, em Torres Novas, com os bolsos recheados com os escudos amealhados na colheita do figo preto, espaço de que não me recordo do nome e que não passava de um simples e esconso corredor que abria num balcão recheado de capas das últimas novidades e não só, antro especial que era conhecido então por ter sempre aqueles discos alternativos de que todos gostávamos e comentávamos em animadas conversas durante os intervalos das aulas... E se não houvesse encomendava-se, uma fnac muito à frente do seu tempo! Mas do que me lembro e bem é que foi graças ao Mourão, colega de turma e craque de andebol com tiques musicais interessantes que cheguei aos TALKINGS HEADS, ele que morava paredes meias com a garagem dos Claras onde eu apanhava a camioneta da carreira para casa ao fim do dia, e num desses dias, após animada conversa sobre música e bandas, dou comigo em casa do Mourão a ouvir o "Psicho Killer", novidade então e grande orgulho dele... E de facto convenceu, fiquei apanhado pelas cabeças falantes, embora só mais tarde tenha comprado os seus discos e bebido a sua magia até à última gota!
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Editado a 3 de Agosto de 1979 |
E que deslumbre foi chegar a casa e colocar o 33 rotações na aparelhagem, delícia de som, algo muito à frente do seu tempo, chamassem-lhe o que quisessem, punk electrónico ou new wave, não interessava a onda, era apenas um som genial! E aquela incrível sequência de "Cities", "Life during Wartime", Memories can't wait", muda o disco para o para o lado B (sim, era preciso mudar o disco para o lado B, às vezes parecia que eram duas obras distintas, a A e a B) e depois "Air" logo seguida da minha favorita, "Heaven", era demais para uma mente conturbada e irrequieta de quinze anos de pouca maturação! E foi aí que ouvi pela primeira vez que o céu é um sítio onde nada acontece! E se puder levar algumas coisas comigo para o céu ou para o inferno, quem sabe, por poucas que sejam, levarei então o "Fear of Music"!
João Sem Dó
(Musicólogo de Valmedo)
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