CURIOSIDADES DO MUNDO CÃO - XVIII
PREGAR A TRADIÇÃO NUM CEPO...
O incauto viajante que não sabe da história e que vai em busca do principal monumento de VIENA, a imponente catedral de Santo Estevão (Stephansdom), e se for alguém de curiosidade apurada e capacidade de observação refinada, corre o bom risco de ser surpreendido por algo invulgar: ali mesmo, numa esquina da praça defronte da catedral, pode-se observar numa curiosa redoma um tronco totalmente cravado de pregos! A coisa está tão bem inserida no meio que naquela barafunda de turistas que vão e vêm o artefacto passa despercebido à maior parte das criaturas que por ali deambulam, e isso ficou provado nos dez minutos que fiquei ali a contemplar a inusitada obra de arte e a observar a movimentação das massas, tudo segue direitinho para a catedral e depois de a visitar deixa-se engolir pela atracção vanguardista do edifício Haas Haus antes de ir na corrente pela deliciosa rua Graben onde imperam as lojas elegantes...
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"O Cepo de Viena" - J.C.Forgeronne |
E estava eu ali à procura do melhor ângulo para fotografar o cepo quando alguém se aproxima ligeiro de máquina fotográfica em punho e olhar perscrutante sobre os óculos caídos pelo nariz, e então fiquei petrificado como o cepo na redoma, reconheci imediatamente o grande fotógrafo Jean-Charles Forgeronne, ele mesmo ali de carne e osso, e eu que o seguia assiduamente naquele blog um pouco marado chamado Planandonomundocão, longe de imaginar que haveria de me cruzar com ele no sitio menos provável... Ele abeirou-se, examinou a coisa como se procurasse o melhor ângulo para disparar e do nada perguntou:
- Português?
Devo ter feito cara de parvo e ficado tempo demais de boca aberta que ele insistiu:
- Autocolante do glorioso! - disse ele olhando para a mochila que eu tinha às costas...
- Pois! Português e sofredor... - consegui dizer depois do embaraço inicial. E não era a primeira vez que eu era desmascarado nos locais mais recônditos pelo autocolante do Benfica, da próxima vez que quisesse passar despercebido teria que mudar de mochila.
- Sabe a história? - perguntou ele. E sem esperar pela resposta adiantou: - Este tronco tem mais de quinhentos anos e consta que cada um daqueles milhares de pregos foram ali cravados desde então pelos ferreiros antes de saírem de Viena... Cada vez que saiam da cidade espetavam um prego para lhes dar boa sorte!
- Português?
Devo ter feito cara de parvo e ficado tempo demais de boca aberta que ele insistiu:
- Autocolante do glorioso! - disse ele olhando para a mochila que eu tinha às costas...
- Pois! Português e sofredor... - consegui dizer depois do embaraço inicial. E não era a primeira vez que eu era desmascarado nos locais mais recônditos pelo autocolante do Benfica, da próxima vez que quisesse passar despercebido teria que mudar de mochila.
- Sabe a história? - perguntou ele. E sem esperar pela resposta adiantou: - Este tronco tem mais de quinhentos anos e consta que cada um daqueles milhares de pregos foram ali cravados desde então pelos ferreiros antes de saírem de Viena... Cada vez que saiam da cidade espetavam um prego para lhes dar boa sorte!
Forgeronne pôs-se de joelhos, inclinou a câmara e disparou. - Pronto! Já reparou que consegue uma bela foto se captar o reflexo da catedral?
- Por acaso estava a pensar como se poderá espetar ali outro prego... Para dar sorte ao glorioso...
- Bem, se calhar vale mais ir rezar para a catedral - respondeu ele, rindo. - Bom dia e bom passeio.
E seguiu ele em demanda de outras curiosidades...
- Por acaso estava a pensar como se poderá espetar ali outro prego... Para dar sorte ao glorioso...
- Bem, se calhar vale mais ir rezar para a catedral - respondeu ele, rindo. - Bom dia e bom passeio.
E seguiu ele em demanda de outras curiosidades...
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"Cepo espeta no cepo" - Festa de Nadrupe |
Semanas mais tarde, no habitual jantar de amigos da corrida e do snooker na festa anual do Nadrupe, aqui bem perto de Valmedo, e depois de uma maravilhosa mão de vaca condimentada com boa boa disposição e amizade, descemos à zona de jogos e com surpresa imagino-me novamente em Viena junto daquela relíquia da Idade Média, é que ali estavam dois enormes cepos no meio do recinto e de volta deles muita gente em alvoroço, alguns, os jogadores, tentando à vez com furiosas marteladas enterrar um prego enorme no cepo e os demais, uns curiosos outros divertidos, apoiavam ou gozavam com a falta de perícia de alguns no martelanço... No final, glória ao vencedor, aquele que primeiro espetar na totalidade o seu prego!
Parece que este é um jogo tradicional português bem antigo e que ultimamente tem feito sucesso nas festas populares de norte a sul e que pode ser praticado por qualquer um mesmo que não tenha a perícia dos ferreiros vienenses, embora, e por mim falo, naqueles em que as mãos são a principal ferramenta de trabalho será melhor fazer um seguro de acidentes pessoais... E mais que não seja, enquanto se tenta espetar a cavilha deseja-se boa sorte para os tempos próximos enquanto se ganha alguma habilidade para certos trabalhos caseiros...
João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)
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