quinta-feira, 15 de agosto de 2019


ALUCINAÇÕES DE UM ARTISTA FRUSTRADO...



Amigos caninos, já não era sem tem tempo, que saudades tinha de comunicar convosco! Pois bem, hoje quero falar-vos de ARTE e tudo começou assim:
  - James, dá cá isso!
E eu, claro, não dei nada, afinquei mais os dentes na minha presa e refugiei-me no cantinho que estava mais à pata...
  - Ouviste?! Dá cá isso senão temos problemas!  - gritou o J.C, arremelgando-me os olhos e isso, amigos, significa que a coisa é séria e que será melhor  negociar...
E eu, confesso-vos, amigos caninos, que desta vez estava mesmo surpreendido com a reacção do J.C, e embora reconheça que às vezes ele pode ter alguma razão, desta vez não era caso para tanto espalhafato, afinal eu só tinha entre os meus dentes um pedaço de raiz que tinha encontrado durante o nosso curto passeio pelas redondezas, não passava de um pedaço de madeira que me tinha chamado a atenção pelo seu cheiro, ainda tinha impregnado aquele odor a mamífero selvagem, talvez coelho talvez javali, uma mistura almiscarada que me agradava... De resto, nada  de especial tinha, a meu ver, aquele pau, porque não passava disso mesmo, um singelo e reles pau que tinha encontrado pelo caminho...
E então desabocanhei, curioso para ver o que saía dali... O J.C pegou naquilo, virou-o vezes sem conta, olhou por cima e por baixo, até de lado, e disse numa voz que não escondia a emoção:
   


   - Não vês que isto é uma obra de arte da natureza?
E aí eu comecei a ficar preocupado, teria ele endoidecido de vez? Estaria com alucinações? O meu ar de estupefacção deve ter sido bastante convincente por que já ele se justificava:
   - Repara, visto deste ângulo parece mesmo um cão a correr, feliz da vida, não achas?
E eu olhava para o pau, olhava para o J.C, e não sabia o que dizer, era uma coisa surreal!
  - Não vês, James? - insistia ele...
  - Não, não vejo cão nenhum aí! - ladrei... 

Então ele olhou para mim com os olhos arregalados sobre os óculos e, passado uns instantes que me pareceram uma eternidade, disse:
  -Desculpa, tens razão, a tua prioridade é o cheiro e não o aspecto, mas vou tentar explicar-te...
E deu meia volta, levando consigo o artefacto e deixando-me ali especado nas quatro patas...
Voltou passado algum tempo agitando na mão direita o pau e na mão esquerda um papel:
  - Repara neste desenho, és tu a correr, certo?
E de facto, aquilo até poderia ser eu, manchas acastanhadas e língua de fora, de facto parecia um cão a correr...
  - E não achas que aqui é a mesma coisa? Um cão a correr? Tu, por exemplo?
E eu, amigos caninos, olhava e olhava mas não conseguia ver nada de especial naquele pedaço de raiz, a única coisa que alcançava era aquele cheiro a natureza selvagem...  
E então o J.C abanou a cabeça, disse qualquer coisa para si mesmo, tirou o telemóvel do bolso e fotografou aquela obra de arte da natureza e voltou-me as costas... Aí, coisa resolvida, voltei a abocanhar aquilo que não tardou a ficar desfeito em mil pedaços enquanto ia pensando nesta maluqueira de alguns humanos que julgam ter visão artística e que passam a vida a tentar descobrir arte em coisas que não lembra ao diabo! 


James
(Cão de Valmedo)

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