TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO - VI
O MALDITO SONO DOS JUSTOS...
O sono incomoda muita gente, é o que se pode concluir depois da leitura atenta de "24/7" de Jonathan Crary, uma fascinante obra reveladora e crítica que analisa o papel do espectador e do consumidor no centro do vortex do buraco negro que é a sociedade de economia capitalista... Crary, crítico de arte, professor e escritor bem informado, começa por informar-nos que há já dez anos várias universidades e cientistas copiosamente pagos pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos têm vindo a estudar exaustivamente o cérebro e o comportamento do PARDAL-DE-COROA-BRANCA, esse fantástico pássaro que não dorme nem descansa durante os muitos dias que dura a sua viagem migratória ao longo da costa leste que separa o Alasca do México... O objectivo de tão importante pesquisa é entender como consegue o pássaro ludibriar a vital necessidade de dormir e aplicar esse conhecimento aos humanos, não só descobrir como podem as pessoas não dormir como fazê-lo mantendo-se activas com desempenho eficaz e produtividade!
E se numa primeira instância o aparelho científico-militar americano busca uma forma de criar o soldado-insone, desperto 24 horas para a batalha sem pestanejar nem pregar olho, sempre alerta e com capacidades de discernimento que as armas robóticas teleguiadas nunca poderão alcançar, Crary alerta-nos que, como em muitos outros casos conhecidos, a aplicação dessas pesquisas rapidamente estenderá os seus tentáculos para a esfera social, ou seja, alcançar o trabalhador-insone e o consumidor-insone, 24 horas por dia, 7 dias por semana, assim o exige a engrenagem do capitalismo actual... Por outras palavras, para a sociedade de consumo, o sono só atrapalha, é um tempo morto em que não se produz nem se consome, é uma afronta! E não será muito difícil que a sociedade veja essa futura revolução biológica com bons olhos tantos são os que já não dormem para consumir toneladas de realidade virtual, aos que se somam aqueles que buscam uma vigília permanente, quais zombies, numa frenética busca de tempo... Talvez o sono seja mesmo o último reduto da humanidade, a última fronteira ainda não derrubada pela lógica mercantilista e totalitária, e será ele a distinguir no futuro as pessoas dos autómatos sonâmbulos em que a maioria se tornará... Um admirável mundo novo parece estar aí à porta, por mim, prefiro migrar para a costa do Pacífico e fazer umas pacíficas sestas entre os pardais!
João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)
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