LIVROS 5 ESTRELAS - X
PORTUGAL E O IMPÉRIO DA LOUCURA...
SELMA LAGERLOF publicou "O Imperador de Portugal" em 1914, cinco anos após lhe ter sido atribuído o Nobel da Literatura (foi a primeira mulher a consegui-lo) e porque já então tinha escrito obras imortais como "A saga de Gosta Berling", "Jerusalém", "O livro das lendas" ou o fantástico "A viagem maravilhosa de Nils Holgersson através da Suécia" não faz desta uma obra menor, antes pelo contrário... O título pode induzir em erro os mais incautos, a narrativa não tem nada que ver com Portugal ou sequer com quaisquer figuras ou factos históricos lusitanos, é um relato das aventuras e desventuras de um pobre camponês sueco, habitante de uma aldeia perdida entre lagos e florestas, e que acaba por enlouquecer quando a sua adorada filha sai de casa para Estocolmo no intuito de ganhar o dinheiro suficiente para pagar as dívidas da família e evitar que os seus pais fiquem sem a casa...
O pobre pai, na sua loucura, que aumenta à medida que os anos passam e a filha não regressa nem dá sinal de vida, convence-se que Clara Bela, o sol da sua vida, é a Imperatriz de Portugal e ele próprio o Imperador desse país fabuloso onde reina o sol...
«Amigos», murmurava para consigo, «as coisas assim é que estão certas. Não vêem os passaritos novos? Os pais deitam-nos fora dos ninhos se eles não vão de livre vontade. E já repararam no cuco pequeno? Há lá coisa mais reles do que vê-lo refastelado no ninho sem fazer nada, e só a piar para pedir comida, enquanto os pais adoptivos se estafam por causa dele? Não, assim é que está certo. Os jovens não podem ficar em casa e ser um carrego para nós, velhos. Têm de ir tratar da vida. É assim, amigos...»
A história de Jan de Skrolicka, assim se chama o pai, foi baseada numa personagem real que Selma Lagerloff conheceu e que acompanhou de perto a sua loucura e que, ironicamente, é actualmente seu vizinho no cemitério de Ostra Amtervik, onde na sua campa rasa se pode ler Jan Nilsson (1811-1898)...
"O Imperador de Portugal", um hino à esperança e ao amor, lê-se de um fôlego porque na sua urdidura simples, de uma simplicidade estonteante mas de uma profundidade desarmante em que cada breve capítulo assume o carácter de parábola em que são abordadas as virtudes e as manhas da alma e do comportamento humanos, o leitor é conquistado de uma forma arrebatadora... E no final o leitor pode concluir que génio é sinónimo de simplicidade genuína!
João Pena Seca
(Escritor de Valmedo)
«Amigos», murmurava para consigo, «as coisas assim é que estão certas. Não vêem os passaritos novos? Os pais deitam-nos fora dos ninhos se eles não vão de livre vontade. E já repararam no cuco pequeno? Há lá coisa mais reles do que vê-lo refastelado no ninho sem fazer nada, e só a piar para pedir comida, enquanto os pais adoptivos se estafam por causa dele? Não, assim é que está certo. Os jovens não podem ficar em casa e ser um carrego para nós, velhos. Têm de ir tratar da vida. É assim, amigos...»
A história de Jan de Skrolicka, assim se chama o pai, foi baseada numa personagem real que Selma Lagerloff conheceu e que acompanhou de perto a sua loucura e que, ironicamente, é actualmente seu vizinho no cemitério de Ostra Amtervik, onde na sua campa rasa se pode ler Jan Nilsson (1811-1898)...
"O Imperador de Portugal", um hino à esperança e ao amor, lê-se de um fôlego porque na sua urdidura simples, de uma simplicidade estonteante mas de uma profundidade desarmante em que cada breve capítulo assume o carácter de parábola em que são abordadas as virtudes e as manhas da alma e do comportamento humanos, o leitor é conquistado de uma forma arrebatadora... E no final o leitor pode concluir que génio é sinónimo de simplicidade genuína!
João Pena Seca
(Escritor de Valmedo)
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