TERCEIRA, A ILHA DA MEMÓRIA
Aí vamos nós a caminho da ilha dos espíritos, o santo e o popular, a ilha dos impérios, dos toiros, dos vulcões, das gentes heroicas, das tragédias e da resiliência, da irmandade e da partilha, da festa antes que o mundo acabe e da festa depois porque o mundo continua a existir, a ilha rebelde que desafia decretos e conjunturas, a ilha que faz frente à natureza e à ira dos deuses da Atlântida e mesmo que algum dia tudo acabasse ficaria para sempre a ilha na memória...
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"Pico da Memória", Angra- Jean-Charles Forgeronne |
Porque o presente não é apenas feito da memória do passado, porque também importa aquilo que é feito hoje e que será memória honrosa no futuro, quando se chega à Terceira e primeiro se olha para a esmagadora beleza da paisagem respira-se fundo e celebra-se o momento, mas depois rapidamente nos apercebemos que é muito mais do que isso, respira-se muito mais do que o turístico cenário, sem dar por isso já fomos contaminados pelo espírito festivo e pulsante da ilha, como se o vento nos dissesse "aproveita o momento, quem sabe se terás outro..."
Quis o destino que a nossa estadia na Terceira coincidisse com a apresentação do novo livro de um ilustre terceirense, Joel Neto, e claro que era obrigatório estarmos presentes mais que não fosse pela exigência da Susana, fã devota do escritor há longos anos... E que rica foi a conversa entre um ateu e um padre, Júlio Rocha, da Praia da Vitória, já agora um padre daqueles que eu gosto, daqueles cultos e vividos e que mete as pessoas e a memória à frente dos dogmas e da cega praxis...
E diz Joel Neto, na carta ao seu filho terceirense que um dia haverá de descobrir a Terceira, que o amor também é uma memória:
"Amamos a memória, e o mais que ouso dizer-te é que nem sempre deves confundi-la com o passado. A memória é uma reacção química, incandescência, faísca entre o tempo que vivemos e aquele que julgamos ter vivido, e nenhuma das suas demandas - parece retórica - será tão relevante como a do futuro, da mesma maneira que aquilo que os gregos tinham pela frente era a história."
João Palmilha
(Viajante de Palmilha)
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