terça-feira, 12 de novembro de 2024

 
TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO - XIV

A GROTA DO MEDO E O MEDO DA VERDADE...


"Império da Grota do Medo"
Antes de mais devo confessar que o principal farol desta intrépida aventura que aqui se relata foi aquela outra do José Artur, personagem central do romance "Arquipélago", de Joel Neto, e tal como ele, perdidos na demanda das secretas pedras da Grota do Medo, também pedi informações num café à beira da estrada em Posto Santo onde me indicaram as montanhas lá em cima sobre a freguesia, por onde eu e a N. já nos tínhamos perdido naquela manhã por caminhos sem saída e aí chegados, perdidos novamente, tal como ele, voltei a indagar junto do café situado mesmo em frente ao império... Dessa vez, e seria a última tentativa porque já íamos desesperando, especialmente a N. que tem para contar várias expedições minhas em busca de tesouros arqueológicos que depois se revelam pouco gratificantes para o esforço e paciência investidos... -"Calma - ia eu moralizando ao mesmo tempo que consultava pela enésima vez o pequeno mapa que tinha rabiscado ainda no continente e olhando ao redor em busca dos pontos cardeais - está quase, deve ser mesmo por aqui, cheira-me que é por esta mata adentro." - "E vale mesmo a pena, vais ver!" Tinha que ser mesmo ali, tínhamos estacionado o carro mesmo ao lado do império e seguido a pé pela canadinha de bagacina de que falara o homem do café, e agora ali estava à esquerda aquela que só poderia ser a vereda mencionada que entrava mata adentro pelo Outeiro das Pedras, assim lhe chamavam as pessoas dali...

"N a caminho da Grota"
Ignorando umas pequenas tabuletas presas ao tronco de duas árvores avisando de que ali era propriedade privada começamos a subir a ladeira e passadas umas dezenas de metros já se viam algumas prometedoras e curiosas formações rochosas cobertas de verde e pensei para comigo que nem valeria a pena começar logo aí a tirar as obrigatórias fotos, o melhor seria investigar tudo a eito no regresso, primeiro iríamos até ao fim e dele faríamos o principio da nossa investigação... Que bom, a coisa prometia, chegamos depois lá ao cimo onde o caminho vira à direita e quando o fizemos vinha alguém em passo estugado a descer na nossa direcção, abrindo os braços e dizendo algo que eu não consegui, ou antes não quis, perceber logo... Dizia a jovem repetidamente: -"Não podem estar aqui! Isto é propriedade privada, não viram os avisos lá em baixo?" E que não, que não podíamos estar ali mesmo depois de eu afiançar que éramos apenas turistas e que queríamos apenas dar uma olhadela às pedras que alguns dizem ser monumentos megalíticos, que seria uma visita rápida e mesmo depois de ter lançado como causa da nossa intromissão a leitura do livro do Joel Neto na esperança de que talvez a moça fosse uma leitora e fã do escritor e assim baixar a guarda, mas nem uma nem duas, não deu um sinal sequer de saber quem ele era, antes mostrou à evidência que a missão de que estava incumbida era mesmo expulsar-nos dali mas isso não foi necessário, saímos a bem pelo próprio pé... Novamente na canada de bagacina de regresso ao carro não pude evitar a mesma sensação que o José Artur sentira ao descobrir a reunião da sociedade secreta em plena Grota do Medo, algo me dizia que alguém queria manter o local inacessível aos meros curiosos como nós, e depois pensei se não teria sido alguém com quem falámos nos cafés a avisar a guarda do território para a nossa intenção de visita, afinal aquela moça era a mesma que tínhamos visto logo de manhã aquando da nossa primeira tentativa de achar o local, várias vezes a víramos andar por ali de carro... Que desilusão, estar tão perto e nada, nem uma simples foto, mas é a vida de explorador, há que saber lidar com os fracassos, resta-me depois voltar a ler sobre o assunto e rever os vídeos que circulam pela net... 


"Túmulo com mais de 2500 anos" - Foto: Angroesfera 

O chamado Complexo Megalítico da Grota do Medo foi descoberto apenas em 2012 e logo provocou uma acesa polémica: por um lado muitos especialistas, alguns estrangeiros, a defenderem que o sítio é de facto neolítico e pré-histórico, do outro a arqueologia "oficial" portuguesa" a defender a tese de que os 6 dolmenes identificados pelos primeiros não são mais do que penedos soltos que caíram naquela posição, aquilo que em geologia se chama "caos de blocos"... Claro que é uma coincidência muito forçada, chocante até, os grandes blocos de traquite expelidos pelo vulcão Guilherme Moniz há milhares de anos terem-se naturalmente encaixado de tal forma a criar estruturas similares aos túmulos megalíticos que existem pelo norte da Europa, acredita quem quer! Além disso, as formações rochosas da Grota do Medo estão repletas de pias, canais e orifícios abertos na rocha e de inscrições, aliás cada dolmen tem uma pia na sua parte superior... 

                                                                                                                            Grota do Medo


"A investigadora terceirense e o dolmen

Construção ou processo natural? Escolho a primeira, afinal isso esclarece-me o porquê do local estar interdito e ao abandono pelas entidades oficiais, quase apetece dizer que quem fala do assunto é olhado de lado, é que a primeira hipótese levanta outra incómoda questão: se há milhares de anos já havia na Terceira quem construía estruturas megalíticas como sustentar a verdade histórica oficial de que foram os Portugueses os primeiros a chegar à ilha no século XV? E levanta-se ainda outro véu, aquele que encobre a hipótese de as ilhas açorianas serem aquilo que restou da Atlântida engolida pelas águas...

"Foi então que começou a vê-las: pias de diferentes dimensões, entalhadas em rochas dispersas por entre as árvores - e logo a seguir, à beira de um pequeno precipício, três grandes lajes assentes sobre fragas, com as quais formavam construções semelhantes àquelas a que, em certos lugares da Irlanda e da Escócia, se chamavam bullauns.
Arregalou os olhos.
- Dólmenes?
Todas as três construções tinham a entrada virada a leste,  cada uma - imaginou- na direcção da aurora de um momento particular entre solstícios.
- Dólmenes...Aqui debaixo do meu nariz. A cinco minutos de casa!"

                                                                                    (in Arquipélago, Joel Neto)

João Parte Pedra
(Geólogo de Valmedo)

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