segunda-feira, 4 de novembro de 2024

 
AS BOAS-VINDAS DO PANTONIO

Primeiro o mundo pareceu-me enorme, infinito, especialmente depois de termos sobrevoado durante duas horas e meia uma imensidão de água atlântica que até enjoa, mas depois revelou-se-me não só pequeno como bastante curioso... Vindo directamente do aeroporto acabo de estacionar no parque do alojamento, em plena avenida Infante D. Henrique, ali em baixo adivinham-se a marina e o porto de Angra, que ainda desconhecemos porque era preciso fazer quanto antes o check-in, quando ao olhar para o outro lado da rua petrifico e desabafo: 
- Caramba! Como o mundo é pequeno!

"Pantonio" - Angra do Heroísmo, 2016, - foto: Jean-Charles Forgeronne

Ali, mesmo à frente daquela que seria a nossa casa durante a estadia na Terceira, uma pintura revestia uns gigantescos silos abandonados, umas criaturas marinhas esvoaçantes num estilo que eu bem conhecia... 
E como a N. olhou para mim com ar curioso acrescentei:
 - Não vês que isto é um sinal do Espírito Santo, sei lá, o Pantonio aqui, mesmo à frente do sítio onde vamos ficar, dia e noite!

Pantonio - Torres Novas
E depois lá fui encenando a trama que me ia no pensamento: então não sabes que o António Correia, já agora nascido na Terceira e com o nome artístico de Pantonio, está por todo o lado, repara que "pan" significa "o mundo inteiro", "universal", "todo", e que ele tem obras espalhadas por mais de 30 países?! 
 -"E depois repara ainda, até estou arrepiado, não é que ele me persegue desde que nasci?"
  -Como assim? 
Pantonio - Moledo
 - Então, tem os cavalos em Torres Novas, onde nasci, coincidência podes dizer, tudo bem, mas depois vai até ao Moledo pintar o moinho? Onde vivo? E agora está aqui, onde estou? Aliás, isto é mais do que o Espírito Santo aqui da Terceira, isto é mesmo a Santa Trindade! - exclamei - Nascer, viver e estar!
 - Vamos, precisamos de arrumar as malas... - disse ela.
 - Vamos... - respondi, de cabeça às voltas...


João Palmilha
(Viajante de Valmedo)

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