terça-feira, 4 de fevereiro de 2020


TASCAS E ANTROS DE PRAZER - VII


O MAR E OS OSSOS DA PRINCESA...


Peniche é mar e é história, e na história do mar não pode faltar Peniche... Poderíamos passar aqui muito tempo a falar de várias tascas e antros de prazer penichenses em que o mar é servido à mesa, peixe fresco  ou seco, assim e assado, sardinha ou carapau, ou então a famosa caldeirada mas hoje, enquanto bebemos um café a meio da manhã vamos descobrir um dos segredos mais bem guardados da península: os ossos e os ossinhos da Princesa...
A Princesa do Mar, qual criatura marítima tímida e esquiva, esconde-se por entre as ruelas do bairro dos pescadores mas assim que é descoberta revela os seus perigos tal como o fazem as sereias, provados os seus ossinhos nunca mais um navegador poderá resistir ao encanto do seu chamamento e lá terá que voltar de quando em vez até ao final dos tempos...

Os OSSOS SAN PEDRO DE ALCANTARA são uns pastéis de massa finíssima e recheio desconcertante que se desfazem ao contacto com o céu da boca e como o nome indica são uma homenagem a um dos episódios mais marcantes da história marítima de Peniche, o naufrágio do San Pedro de Alcantara ocorrido na península da Papoa  em 1786 e que marcou profundamente a vida e o imaginário não só das gentes da região mas também a história marítima portuguesa e europeia... Ossos porquê? Bem, talvez porque os ossos das 128 vítimas da tragédia, muitos deles desfeitos contra as rochas e transformados em ossinhos foram rapidamente sepultados de improviso por populares e frades de um convento que existia ali próximo no sítio chamado Porto de Areia Norte e assim minorar o aspecto macabro dos achados... E também não é por acaso que a forma dos ossos faz lembrar um singelo esquife ou uns restos mortais envoltos em panos...






E hoje, enquanto desfazia um osso na boca e bebericava o meu café em plena Princesa apenas me vinha à lembrança os infelizes do  San Pedro e pensei que estes ossos e ossinhos vieram ao mundo-cão para nos fazer lembrar que convém aproveitar as coisas doces e boas que a vida nos proporciona enquanto um naufrágio qualquer não nos levar... Aproveitemos então!


João Ratão
(Chef de Valmedo)

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