O MARQUÊS NA VARANDA DO TEJO...
E até parece que os Marqueses são como as cerejas, atrás de um vem outro pegado, ainda fresco está o relato do meu amigo João Ratão acerca do seu surpreendente encontro com o Marquês de Rio Maior ocorrido no Vilar e eis que agora foi a minha vez de em passeio pela zona oriental de Lisboa me deparar com outra curiosa e nobre figura, o MARQUÊS DE ABRANTES, criatura afortunada e antigo proprietário de um sumptuoso palácio ali para os lados de Santos-o-Velho e de uma enorme e altaneira quinta numa colina de MARVILA de onde os olhos se regalavam até ao Tejo e se do primeiro rezará outra futura crónica debrucemo-nos agora sobre a segunda...
![]() |
"Tejo ao fundo" - J.C. Forgeronne |
Nestes terrenos que desde o século XVII pertenceram outrora à Quinta do Marquês de Abrantes foi construído entre 1994 e 2001 um bairro social ao qual se chamou a propósito Bairro do Marquês de Abrantes e que teve como objectivo o realojamento de centenas de famílias que viviam em barracas desde 1950 aquando do fluxo migratório de gente que chegou a esta zona vinda das Beiras e para trabalhar nas fábricas lá em baixo junto ao rio, na Fábrica Nacional de Sabões, na Fábrica da Borracha ou na dos Fósforos, nos Armazéns Abel Pereira da Fonseca ou ainda na Fábrica Militar do Braço de Prata a fabricar munições, morteiros e as famosas G3 e FBP com que se alimentava a guerra nas colónias...
![]() |
"Bairro Marquês de Abrantes" - J.C Forgeronne |
Ora, tendo eu subido por caminhos secretos desde o Braço de Prata até ao alto de Marvila em busca da arte estampada nos prédios aos quatro ventos, viatura abandonada a meia encosta por entre armazéns em ruínas, antigos palacetes a cair e terrenos ao abandono à espera de lucrativos investimentos, pus-me a andar à descoberta... E não foi só a caminhada e a subida que me tirou o fôlego, fica-se sem ar quando nos colocamos mesmo debaixo da tela de cada prédio a olhar para o alto e somos invadidos pelas benfazejas vertigens causadas pela magia da cor, da forma, da mensagem ou simplesmente pela nuvem que vai passando e que a fotografia não consegue revelar...
![]() |
"Mi Madre" - Cix Mugre |
E agora que estou recuperando os sentidos sentado na esplanada da Associação Recreativa do Bairro do Marquês de Abrantes, numa varanda com vista privilegiada para um Tejo sereno e luminoso, pergunto-me porque demorei tanto tempo até aqui chegar e encontrar o deslumbramento nestas 8 enormes telas das 17 que o Festival Muro plantou por esta zona oriental vai para três anos... Mas nunca é tarde para subir à varanda do marquês...
João Conde Valbom
(Olisipógrafo de Valmedo)
Sem comentários:
Enviar um comentário