segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020



ÀCERCA DE NAUFRÁGIOS, TERRAMOTOS E REVOLUÇÕES...


Por experiência é costume dizer-se que a vida pode dar muitas voltas, o que está mais que provado em muitos casos mas, por intuição, também se poderá admitir que algumas vidas não passarão de uma breve voltinha por este mundo-cão e que no final nem parece que se saiu do mesmo sítio e mais raro ainda é encontrar alguém que tenha passado por essas duas distintas vivências, como é o caso de JEAN PILLEMENT que até morrer na miséria e no esquecimento na mesma cidade que o vira nascer, Lyon, deu tantas voltas pela Europa das luzes durante os seus 79 anos de vida e tendo convivido de perto com o luxo e com o sucesso de tal forma que a sua cabeça deve ter andado à roda em bastas ocasiões...

"As margens do Tejo, efeito de bruma" - Jean Pillement

PILLEMENT tinha que ser pintor, afinal era bisneto, neto e sobrinho de pintores, mas foi mais do que isso, ele era também desenhador, gravador e decorador e desde cedo que produziu obras para muitas cortes europeias e para clientes abastados, tendo passado por Madrid, Lisboa, São Petersburgo, Viena, Paris, Londres, Roma, Turim, Milão, Bona ou Varsóvia... Nunca lhe faltou trabalho nem reconhecimento pelo seu estilo rococó delicado, requintado e fantasista. Consta que estava em Portugal em 1755 contratado pela Real Fábrica de Sedas e que daqui fugiu por causa duma estranha denúncia à Inquisição em que algum invejoso o acusava de ser pedreiro-livre, sodomista e descrente dos santos, entre outras coisas! Ainda bem para ele porque assim, ao ir dar outra volta lá por fora, escapou ao terrível terramoto que arrasaria Lisboa meses mais tarde...
O nosso herói regressaria mais vezes a Portugal e na sua estadia mais longa, entre 1780 e 1786, ao mesmo tempo que criava pinturas por encomenda no Palácio de Seteais ou no Palácio Fronteira, por exemplo, aproveitou para abrir com sucesso a Escola de Desenho do Porto e para dar aulas também em Lisboa e porque entretanto assiste em 1786 a todo o desenrolar da famosa catástrofe do San Pedro de Alcantara , Pillement  pinta apaixonadamente várias telas sobre o naufrágio de Peniche...


"Náufragos chegando à costa" - Jean Pillement - Museu do Prado

Regressado a França em 1789, Pillement, que anos antes tinha sido nomeado pintor da futura guilhotinada Maria Antonieta e para a qual tinha feito pinturas no Petit Trianon, fugiu de Paris após o desencadear da Revolução francesa, refugiando-se na província... É certo que escapou à guilhotina mas acabaria por ter uma condenação atroz, a revolução matou o estilo rococó e na ausência de encomendas o nosso "pequeno mestre de Lyon" morreria pobre e só...

"Chinoiserie"
               



                                 João Plástico
                                 (Artista de Valmedo)

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