sexta-feira, 20 de dezembro de 2019




ERA UMA VEZ UMA ÁRVORE SAGRADA...



Quando este mundo-cão deixou para trás a Idade do Gelo, a última glaciação que terminou vai para 12000 anos, o território que hoje é Portugal cobriu-se de uma floresta à base de carvalhos e castanheiros, mas não só, nas zonas mais húmidas apareceram os choupos, os amieiros, os freixos e os salgueiros enquanto que nas zonas serranas brotaram a cerejeira, o loureiro, a pereira, o azevinho ou a avelaneira... A futura Lusitânia era então um imenso paraíso botânico mas que começou a sofrer a pressão humana vai para 5000 anos com o aparecimento da agricultura, da pastorícia, do abate de árvores e dos inevitáveis incêndios, atingindo-se o auge da alteração florestal em duas ocasiões: durante a época dos Descobrimentos em que se instituiu uma intensiva cultura de madeira para a construção das caravelas e naus e depois, já no século XX, quando o Estado Novo decidiu tornar o Alentejo no celeiro de Portugal devastando a outrora imensa floresta de sobreiros e também a partir da década de 50 com a eucaliptização maciça para a produção de pasta de papel. 
Actualmente, e embora Portugal se apresente como um dos países com mais área florestal da Europa (35%) segundo o último inventário florestal levado a cabo em 2010, esse facto não nos deve sossegar por duas razões, sendo a primeira o facto de sermos um país pequenino, e segunda, e muito mais importante, essa floresta distribui-se da seguinte forma: 26% de eucaliptos, 23% de pinheiro-bravo, 23% de sobreiro, 11% de azinheira, 6% de pinheiro-manso, 2% de carvalhos-autóctones e apenas 1% de castanheiro...


Sagrado carvalho...

Na família portuguesa dos CARVALHOS encontramos o SOBREIRO e a AZINHEIRA, de folha perene, e depois o CARVALHO-ROBLE e o CARVALHO-PARDO, de folha caduca, tudo entremeado pelos CARRASCOS, pequenos arbustos que revestem o centro e o sul de Portugal... Certo é que os homens e mulheres que primeiro colonizaram estas lusitanas terras encontraram sustento e energia na grande quantidade de hidratos de carbono que as BOLOTAS lhes proporcionavam, especialmente as de azinheira, menos amargas que as de outros carvalhos... E não admira, pois, que os CELTAS tenham descido em busca deste carvalhal, para eles os  bosques de CARVALHO eram os locais sagrados onde os deuses se revelavam!


Carrasco amigo...

E é bom lembrarmo-nos de que cada vez que um incêndio destrói uma floresta de carvalhos isso significa que séculos de vida e história estão a arder à nossa frente, é que, em média, um carvalhal perdura entre 500 a 1000 anos e que um simples carvalho, até ficar maduro e pronto para se transformar em madeira de grande qualidade e preço a condizer, necessita de 250 (!) anos de vida tranquila!

João Resina
(Botânico de Valmedo)

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