DAS PESSOAS, DA FAMA E DAS MANIAS...
Atravessei o centro da vila deserta, enfiei-me pelo estreito e escuro beco da fruta e chegado à Rua Grande mortiçamente iluminada ouço os primeiros sinais de vida, olho para a direita e vislumbro ao fundo em descontraída aproximação o Sérgio Godinho em amena cavaqueira pós-prandeal com duas ou três pessoas desconhecidas, escritores ou poetas ou críticos certamente, haveria de saber quem eram daí a um par de horas, o grupo tinha descido desde o castelo e dirigia-se, tal como eu, para o Auditório do Centro Cultural, virei à esquerda deixando-os atrás de mim e então apenas um vulto me precedia e que hesita um pouco mesmo à porta... Hesito também, ficamos ali os dois até que, no segundo imediatamente antes de eu lhe dizer para entrar primeiro, o outro, virando-se sorrindo para mim estende-me a mão e pergunta-me:
- Olá, está bom?
Não reconheci imediatamente a cara e eu, que nunca esqueço umas feições que já tenha visto algures, sei que já as vi mas bastas vezes não as consigo associar a um lugar ou a uma circunstância, (esta deficiente memória terá um nome certamente e agora que penso nisso irei investigar um dia), pensei para comigo de onde me conheceria ele para me abordar assim tão simpaticamente, quase familiarmente... Mas aquela voz era-me tão familiar que demorei mais do que desejava a responder.
- Boa noite - respondi - Se faz favor..
E enquanto atravessávamos o corredor que desemboca no anfiteatro já bem frequentado, eu maravilhado com as circunstâncias, ganho coragem e digo ao Mário Augusto:
- Já agora, muito obrigado por trazer de volta aquelas maravilhosas recordações da nossa adolescência... Sabe, eu sou de 64...
E ele que já tinha percebido que eu me referia à "SEBENTA DO TEMPO" responde com outro sorriso:
- E eu sou de 63! Engraçado...
- Então até já...
E cada um foi para o seu lugar...
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"Corações em Concerto" |
O serão começaria então com uma belíssima prestação dos "CORAÇÕES EM CONCERTO", um inspirado nome para um trio musical formado pela Rita, pelo Nuno e pelo Rui e que encantou durante uma curta hora a musicar a poesia de Sophia de Mello Breyner... E no final só deu para desejar que haja muitos mais consertos destes poéticos corações!
Entretanto e enquanto João Morales iniciava as hostilidades oratórias de um painel diversificado, ia eu pensando naquele encontro imediato de primeiro grau que me tinha acontecido com o "senhor cinema", alguém famoso, figura pública, com o seu pedestal reservado e no entanto, uma pessoa afável, simples no trato e natural no relacionamento, e nem de propósito, qual conjunção astral, eis que lhe perguntam, a propósito do seu último livro, "Janela Indiscreta", uma selecção das suas 25 melhores entrevistas entre 2000 que fez ao longo da sua carreira a estrelas do cinema, diz ele:
- Os maiores, os melhores, falam contigo tal e qual a vizinha do fundo da rua, amistosamente, sem peneiras nem manias, pessoas simples e normais como nós, como é o caso da Meryl Streep, por exemplo... Outros, como o De Niro, emproado e maniento, faz notar desde o princípio que está ali contrariado, afinal porque é que tem de aturar estes chatos entrevistadores?
E senti que aquilo que o Mário disse foi autêntico, ele nascido, criado e ainda vivendo em Espinho, gosta das pessoas genuínas, da autenticidade, da partilha, sem manias...
E no fim do evento, lá consegui natural e simpaticamente o almejado autógrafo de uma pessoa famosa que continua simples e afectuosa, como eu e como tu, sem a mania das grandezas...
João Vírgula
(Leitor de Valmedo)
Entretanto e enquanto João Morales iniciava as hostilidades oratórias de um painel diversificado, ia eu pensando naquele encontro imediato de primeiro grau que me tinha acontecido com o "senhor cinema", alguém famoso, figura pública, com o seu pedestal reservado e no entanto, uma pessoa afável, simples no trato e natural no relacionamento, e nem de propósito, qual conjunção astral, eis que lhe perguntam, a propósito do seu último livro, "Janela Indiscreta", uma selecção das suas 25 melhores entrevistas entre 2000 que fez ao longo da sua carreira a estrelas do cinema, diz ele:
- Os maiores, os melhores, falam contigo tal e qual a vizinha do fundo da rua, amistosamente, sem peneiras nem manias, pessoas simples e normais como nós, como é o caso da Meryl Streep, por exemplo... Outros, como o De Niro, emproado e maniento, faz notar desde o princípio que está ali contrariado, afinal porque é que tem de aturar estes chatos entrevistadores?
E senti que aquilo que o Mário disse foi autêntico, ele nascido, criado e ainda vivendo em Espinho, gosta das pessoas genuínas, da autenticidade, da partilha, sem manias...
E no fim do evento, lá consegui natural e simpaticamente o almejado autógrafo de uma pessoa famosa que continua simples e afectuosa, como eu e como tu, sem a mania das grandezas...
João Vírgula
(Leitor de Valmedo)
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