segunda-feira, 13 de agosto de 2018



LIVROS 5 ESTRELAS - III


AS VELAS (NEM SEMPRE) ARDEM ATÉ AO FIM...


A crítica e os críticos valem o que valem, apenas valem aquilo que nós lhes valorizamos, mas neste caso, confesso, estou com as críticas e com os críticos! "Uma obra incomparável", "Um dos melhores romances escritos no século XX" ou "Um belíssimo romance sobre a amizade, a paixão e o mundo...", eis o que poderemos ouvir... E de facto, assim é, tudo isso e muito mais e porque cada um o vai medir à sua maneira, mas mesmo sendo ele medido de mil maneiras é um livro extraordinário, paradoxalmente desconhecido do grande público e dos escaparates mas que, voilá, circunstâncias essas que o tornam ainda mais precioso, único, misterioso e imperdivel... Daí que, inevitavelmente, nos chegue por sugestão amiga...





SÁNDOR MÁRAI  nasceu em Kassa, pequena cidade da Hungria (hoje KOSICE, Eslováquia) e foi um dos maiores autores da língua húngara, jornalista, poeta, dramaturgo, romancista, produziu mais de sessenta obras! Opositor ferrenho do regime comunista russo que invadiu o seu país, pagou caro a ousadia com livros proibidos, toda a sua obra censurada, perseguição e um exílio forçado! Daí ainda hoje ser tão desconhecido...
Em 1989, com 89 anos de idade, exilado em San Diego, Califórnia, disparou um tiro nos seus miolos geniais, farto deste mundo deformado e tão pequeno para ele...




"É a maior tragédia com que o destino humano pode castigar o homem. O desejo de ser outro, diferente daquilo que somos: não pode arder um desejo mais doloroso no coração humano. Porque não é possível suportar a vida de outra maneira, apenas sabendo que nos conformamos com aquilo que significamos para nós próprios e para o mundo. Temos de nos conformar com aquilo que somos e de ter consciência, quando nos conformamos, de que em troca dessa sabedoria, não recebemos elogios da vida, não nos põem no peito nenhuma condecoração por sabermos e aceitarmos que somos vaidosos ou egoístas, carecas e barrigudos, não, temos de saber que por nada disso recebemos recompensas nem louvores. Temos de suportar, o segredo é isso. Temos de suportar o nosso carácter, o nosso temperamento, já que os defeitos, egoísmos e avidez, não os mudam nem a experiência nem a compreensão. Temos de suportar que os nossos desejos não tenham plena repercussão no mundo".

in "As velas ardem até ao fim"


João Pena Seca
(Escritor de Valmedo)

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