sábado, 8 de julho de 2017




OS CABRÕES DOS FRANCESES E A CHANFANA


Parece que há 12000 (!) anos atrás o homem neolítico teve a primeira ideia não pré-histórica da humanidade: farto de lascar pedra e calcorrear meio mundo em busca de animais selvagens, tomou a decisão de os domesticar e criá-los ele próprio e assim, confortavelmente instalado na sua gruta provida de aquecimento geotérmico, passou a ter carne, leite e vestuário ao alcance de uma mão... Talvez tenha sido , o deus dos bosques, dos rebanhos e dos pastores, a dar ao homem essa ideia tão simples quanto revolucionária, por certo farto de o ver penar numa errância sem sentido e pouco frutuosa, afinal não é essa a função dos deuses, tornar a nossa vida mais fácil e aprazível?








Antes de Portugal existir e muito antes de os Romanos aqui terem chegado em busca de ouro, cobre e outras riquezas, já  acompanhava ao som da sua flauta os rebanhos pelos pastos ricos da antiquíssima LUSITÂNIA... E se é certo que este Deus também tinha a sua face lunar, presenteando também o homem com o PÂNICO, essa sensação terrível de não ter controlo sobre nada deste mundo, estou desconfiado que o seu maior sucesso terá ocorrido aquando das INVASÕES FRANCESAS, pois nunca tanta gente terá ficado assustada e em pânico! 
Os cabrões dos franceses, a mando desse pequenino esquizofrénico que foi o NAPOLEÃO, não só invadiram como destruíram, pilharam e roubaram, humilhando as populações sempre que tiveram oportunidade, e é bom não esquecer que as riquezas que levaram deste país foi acordado com os ingleses, supostamente os nossos melhores amigos e defensores! O ódio pelos franciús tinha que vir à tona mas isso aconteceu quase exclusivamente entre o povo que sofria na pele, até porque a nobreza e a burguesia lusitanas se venderam por meia dúzia de napoleões, aceitando a manutenção de uma influência anémica e caduca na sociedade.... E a família real deu o maior exemplo ao fugir quem nem rato para o Brasil!



Pelotão luso a caminho da batalha


Consta que os soldados franceses andavam de mochila vazia para não atrapalhar as movimentações das tropas e assim, sem provisões, para se alimentarem, a estratégia era pilhar tudo o que havia pelo caminho... Aquando da terceira invasão e na zona de Miranda do Corvo, Lousã, Buçaco e Penacova, a primeira lei que os franceses esfomeados elaboraram foi a confiscação dos melhores animais e produtos, deixando para as populações apenas o que tinha mau aspecto, cabras novas, cabrões e cabritos para francês comer, cabra velha para português ver! Ora, os lusitanos nunca foram de se ficar e vai daí, ao lhes chegar aos ouvidos que se aproximavam os franceses, antes de fugirem e abandonarem as suas casas, queimavam as colheitas e envenenavam as águas.... E como ficava sempre alguma população indígena nos territórios ocupados, como poderiam sobreviver apenas com cabras velhas e com pouca água potável? E assim, reza a lenda, se inventou a CHANFANA, cabra velha cozinhada em vinho tinto (na ausência de água), curiosamente uma ideia parecida com a dos gauleses habituados a cozinhar o famoso COQ AU VIN.... E esta iguaria foi talvez a única coisa boa que os franceses nos deixaram...



Um cabrão da raça lusitana


CHANFANA À VALMEDO

Ingredientes-
   - 1 Kg de carne de cabra (velha)
   - 1 naco de presunto
   - 1 garrafa de bom vinho tinto
   - 1 dl de azeite
   - 1 colher de sopa de banha de porco
   - 3 dentes de alho
   - 1 cebola
   - louro
   - colorau
   - sal, pimenta
   - 1 raminho de salsa

   - Limpar a carne de peles e gordura e dar-lhe uma escaldadela; cortar aos pedaços;
   - No fundo de uma caçoila de barro colocar a cebola às rodelas e, por cima, a carne, o presunto aos pedaços, o alho picado, o louro, a banha,a salsa e o azeite;
    - temperar com sal, pimenta e colorau;
    - regar tudo com o vinho tinto e deixar marinar de um dia para o outro;
    - no dia seguinte, cozer em forno de lenha durante 4 horas e acompanhar com batata e grelos cozidos;

(pode também cozinhar-se a chanfana no forno eléctrico desde que em tacho ou tabuleiro de barro )







   

Joao Ratão
(Chef de Valmedo)

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