A MATEMÁTICA, O ABSURDO E O GÉNIO - II
Enquanto infinitos macacos continuam a tentar escrever as obras de SHAKESPEARE, não se sabe em que língua, talvez macaquês, voltemos ao fabuloso Teorema do macaco infinito, ou melhor, à ideia do infinito, essa abstracção que ainda está por ser provada e tornada realidade...
Matematicamente, no limite entre dois números inteiros, no intervalo entre 1 e 2, por exemplo, existe um universo infinito de números decimais, teorema pacificamente demonstrado se atentarmos neste fabuloso número (que não inventei, já existia e só estava à infinito tempo à espera que fosse tornado real e que, qual macaco diligente, acabei de digitar aleatoriamente no meu teclado ergonómico: 1,214547854121455614545212587412587412211212121(...ad infinitum) e que, daqui a 5 milhões de anos ainda poderia continuar aqui simiescamente sentado a escrever porque, simplesmente, ele é infinito, NÃO TEM FIM! E no entanto, paradoxal e realmente, sabemos que é finito porque existe o 2(!), número inteiro e redondo e que abre outros universos infinitos... até chegar ao 3! E assim infinitamente!
Apresento pois o TEOREMA INFINITO DE VALMEDO: "qualquer universo matemático ou real (este mundo em que vivemos, por exemplo), por mais aspecto de infinito que possa ter, estará dentro de certos limites e, portanto, é finito pois estará contido "dentro" de outro universo maior"!
E porque é que pode o Teorema de Borell-Cantelli estar errado? Porque, simplesmente, e decorrente da própria questão, uma determinada ocorrência poderá estar para acontecer por tempo infinito, pode ser sempre para a próxima ou para amanhã, como diria o Variações, só que amanhã isso não acontece e fica para depois, até ao fim dos tempos, se é que os tempos têm fim... E entretanto, daqui a biliões de anos ainda estaria para acontecer, os macacos ainda continuariam a martelar nas teclas e nem a palavra banana poderiam ter escrito e, assim, talvez mais filosoficamente do que matematicamente, se comprova que a matemática pode ser um grande absurdo! E entretanto, quando o nosso sol se extinguir daqui a milhões de anos, terá desaparecido o planeta dos macacos, os matemáticos (alguns deles loucos e alienados) e também o mundo absurdo em que vivemos e, pior do que isso, o raio do teorema corre o risco e a probabilidade de nunca vir a ser demonstrado e assim, ser FALSO! Ou seja, nem tudo o que possa acontecer acontecerá! E não é preciso ser génio para perder a pachorra com questões tão absurdas como este teorema, embora a PAULA REGO tenha perdido a dela e aniquilou de vez os macacos escritores que tinha lá no quarto a tentarem ser Shakespeare, e vai daí matou-os a todos... Eu teria feito o mesmo, se tivesse génio para tal!
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"Quarto de Shakespeare" - Paula Rego, 2006 |
O outro lado do esquizofrénico Teorema do Macaco Infinito é que o podemos associar à fabulosa ideia dos universos cosmológicos paralelos ou infinitos, e aí, pelo menos filosoficamente, ganha contornos interessantes e sedutores....
Entretanto, Shakespeare só houve um, o génio não se repetiu, apesar de infinitos macacos o terem tentado imitar, e escreveu o seguinte:
"Ser ou não ser, eis a questão. Qual será o partido mais nobre? Suportar as pedradas e as frechadas da fortuna cruel ou pegar em armas contra um mundo de dores e acabar com elas resistindo? (...) Morrer! Dormir; Sonhar talvez? sim, aqui está o ponto de interrogação; quais serão os sonhos que teremos no sono da morte, quando escaparmos a esta tormenta da vida?"
Hamlet
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O macaco Shakespeare |
João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)
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