EU, MODELO IMPACIENTE
- Assim não, James! Mantém-te quieto! - vociferava o J.C, debruçado de forma intimidatória sobre o meu nariz, com um papel numa mão e um lápis na outra - Vá lá, bicheza, isto é rápido, não queres ficar mal no retrato pois não?... E enquanto ele, ora olhando para mim ora traçando freneticamente riscos no papel, eu ia ficando mais e mais impaciente, já não estava a achar muita piada à ideia de fazer de modelo... Tudo tinha começado umas horas antes quando o J.C, nas suas deambulações matinais, tinha descido à vila e visitado a Galeria Municipal onde estavam expostas obras de uma jovem e promissora artista, Sara Rosa, de apenas 16 (!) anos de idade...
- Olha só para isto, James, já viste a paixão com que estes dois amigos teus foram retratados? Sem dúvida que a artista adora cães! O que achas hein? - e eu ia olhando para uma e para a outra pintura que ele me mostrava naquele aparelho diabólico que todas as pessoas trazem na mão e por vezes à orelha, parece-me ter sido inventado para alienar as pessoas tantas são as vezes que tento entabular uma conversa, ou pedir um biscoito ou apenas uma pequena atenção, uma festinha às vezes e ninguém nos liga, atarefadas para lá e para cá com aquela coisa e, pior, a falarem sozinhas!
- E olha para este, não está tão querido? Sabes, acabei de ter uma ideia! - disse então o J.C. enquanto ia cofiando a barba e olhando bem fundo nos meus olhos... E aí, amigos caninos, arrebitei as orelhas devido ao desconforto que às vezes as ideias dele me provocam, "O que vai sair daquela cabecinha?", interrogava-me eu... E o que saiu foi: - "Vou fazer um retrato teu, James! Não é uma boa ideia? Afinal tu até és bastante fotogénico e a mim apetece-me dar azas à minha criatividade, só precisas de ficar quieto uns minutos, ok? Tu até tens pinta de ser um bom modelo..." E depois de longo longo tempo, quando ele me mostrou o meu retrato, até esqueci a seca que foi ser modelo, a coisa até ficou engraçada, ou não acham?
James
(Cão de Valmedo)
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