sexta-feira, 28 de março de 2025

 
O MUNDO-CÃO PELO OLHO DO ARTISTA - II


"Moledo"-Paulo J. Mendes, 2025

"Moledo", 2025

Jean-Charles Forgeronne
(Fotógrafo de Valmedo)

terça-feira, 25 de março de 2025

 HÁ LIVROS... E LIVROS!

E pronto, acabada a feira é tempo de desarmar as barracas, desligar os holofotes e regressar a casa, já a fazer contas a quanto tempo faltará para a próxima edição do Festival de Banda Desenhada da Lourinhã... Ficaram excelentes conversas, muitas curiosidades sobre a vivência de autores e leitores, muita expectativa para novas obras que estão a chegar e, especialmente, sugestões de leitura e livros, muitos livros... 


Descobrem-se novos autores, conhecemos e ouvimos artistas há muito conceituados, apercebemo-nos do estado da nona arte em Portugal e no mundo, ao fim e ao cabo divertimo-nos e aprendemos e nessa aproximação entre os criadores e o público traçam-se projectos de futuro para uns e para outros...


E depois há momentos únicos e marcantes, como me aconteceu a mim ao conhecer pessoalmente Miguel Angel Martin, o artista de León, polémico quanto baste mas um dos mais conceituados criadores a nível internacional, distinguido em Roma com o prémio equivalente ao Oscar para melhor autor estrangeiro... Diz o próprio acerca de si que "a graça está na combinação de um traço limpo, um pouco ingénuo com uns conteúdos um pouco escabrosos, ácidos e retorcidos", ao meu gosto, portanto... E depois livros há muitos, mas ter um com um autógrafo magistral de um artista assim é especial, muito especial...



JoãoVírgula
(Leitor de Valmedo)

domingo, 23 de março de 2025

 
ANEDOTAS QUE PARECEM POEMAS - XIV

REMÉDIO PARA A MEMÓRIA

Prudêncio, depois de um par de minutos na rua a olhar para o letreiro e para o interior da frutaria ainda hesitou e pensou em continuar o passeio mas a curiosidade falou mais alto, tinha que esclarecer aquilo, entrou na loja e dirigiu-se à empregada que, enfastiada e com cara de poucos amigos, ia teclando com exagerada força no teclado de um computador:
  - Desculpe, mas venho apenas esclarecer uma coisa que me está a atazanar os neurónios, porque é que esta loja que pelo que vejo só vende frutas e legumes se chama "Loja da Memória"?
A moça levantou lentamente a cabeça e olhando por cima dos óculos para Prudêncio respondeu:
  - Sabe, é que tudo o que aqui vendemos, de uma maneira ou de outra, faz bem à memória...
Prudêncio, não convencido, virou-se e pegando na coisa que estava mais à mão, uma bem constituída e reluzente curgete, teimou:
  - Ai sim, então porque é que esta curgete faz bem à memória?
  - Olhe, porque se a enfiar bem no rabo nunca mais se vai esquecer!



                      (Baseado numa história de "Paciência é o meu nome do meio", de Inês Fetchónaz)

João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)


 É PRECISO TER PACIÊNCIA

Em marcha lenta dei duas voltas de carro pela praça em busca do letreiro que me anunciasse o local exacto mas nada, mesmo em frente tinha a Farmácia Quintans e a loja de modas Papoila, à esquerda a florista Soflor, o Talho do Sergio e o edifício devoluto da antiga pastelaria Nellus, atrás de mim as antigas Finanças e uma agência de seguros, à direita a Louripapel e o antigo edifício da Câmara Municipal e depois mais nada, nem sinal da Loja Cores do Campo onde era suposto, segundo o folheto que tinha na mão e que relia pela centésima vez, a exposição baseada no livro "Paciência é o meu nome do meio" de Inês Fetchónaz, uma das atracções do 3º Festival de Banda Desenhada da Lourinhã... Não havia mais nada, a não ser o enorme dinossauro no centro da praça, já agora e a propósito muito bem apelidado de Centrosaurus, um herbívoro do Cretássico com 3 toneladas de peso e 6,5 metros de envergadura. Já um pouco irritado estacionei em canto proibido e saí do carro para analisar melhor, não havia sinal  de que na Praça Marquês de Pombal, ancestral coração da Lourinhã, houvesse uma exposição, a não ser que... "Mas será possível?" - perguntei-me, lá ao fundo, escondida, já um pouco fora da praça e mais na Travessa do Cotovelo pareceu-me vislumbrar uma loja, sem letreiro ou outra qualquer informação visível, aproximei-me e qual não foi o meu espanto ao dar com uma pequena loja de frutas e legumes com uns livros expostos na montra, era então ali!


Era mesmo ali, no pequeno espaço por entre expositores de frutas e legumes viam-se nas paredes as inconfundíveis pranchas do livro, e depois uma agradável conversa com o Paulo, o dono da loja, esclareceu tudo... A loja ainda não tinha letreiro porque era um projecto muito recente, quase de ocasião, depois a ideia da exposição ali devia-se à filha, a Sharon, meio cérebro da editora Escorpião Azul, a qual pensou e muito bem que não haveria melhor sítio para fazer a exposição do que ali já que a Inês é colaboradora de um supermercado e o seu livro decorre das histórias cómicas e surreais que lhe acontecem no dia-a-dia...



Já agora, e sem favores, fiquem a saber que a loja do Paulo, ainda sem letreiro mas que se chama mesmo "Loja Cores do Campo", apenas exibe produtos genuinamente portugueses e de qualidade insuspeita... E depois tenham paciência, muita paciência, mas é caso para dizer que, tal como a BD, o que é português é bom!



João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)

 A NONA ARTE INVADIU A VILA!

Socorro! A Lourinhã foi invadida por heróis, uns super e outros nem tanto, porque heróis tanto são as personagens de livros e filmes como também o são os criadores, desenhadores, argumentistas e editores, que num mundo em que é cada vez mais penoso criar obras originais em liberdade de expressão, sim, não se deixe enganar, a censura continua bem viva no mundo da arte, incluindo a nona, que o digam Miguel Angel Martin, decano autor espanhol multipremiado com uma carreira ímpar e que viu um livro seu ser proibido em Itália ou também Jorge Deodato, outrora editor da Polvo e que chegou a ver a sua loja na ultra-conservadora e católica cidade de Viseu ameaçada e sitiada só porque na montra se exibia um livro com o título "As mulheres não gostam de foder"!...


Uma semana inteira de Banda Desenhada na Lourinhã é o que é, o III Festival LouriBD, organizado pela Editora EscorpiãoAzul, traz-nos autores de Portugal, Espanha ou Brasil, muitas conversas sobre os livros e sobre o universo editorial, várias exposições, muitas oficinas ao dispor dos alunos desde o pré-escolar ao secundário, um mercado de livros, um concerto ilustrado e até cinema, que melhor se pode querer? 



Mas ontem aconteceu um dos momentos altos do certame com a exibição do filme português "O Velho e a Espada", da autoria do jovem Fábio Powers e com efeitos especiais de Jules Spaniard Raimes, um filme que, segundo os autores, está a ter um sucesso surpreendente pois já foi premiado em Espanha e exibido também no Canadá, na Dinamarca e na Grécia... Um filme de autor, quase caseiro, em parte autobiográfico, rodado numa aldeia de Castelo Branco e com uma personagem principal desarmante, António da Luz, desempenhada pelo próprio, ele que era realmente o bêbado da aldeia e que Powers conheceu ainda menino... Confuso? Se o está é porque não esteve no Festival a conversar com o autor mas tem um bom remédio: veja o filme e delicie-se...  

João Película
(Cinéfilo de Valmedo)

sexta-feira, 21 de março de 2025


 RASCUNHO DE POEMA NO DIA MUNDIAL DA POESIA



 
UMA VOLTINHA POR... - II

"O urinol"
...LISBOA Oriental! Deixo o carro em frente à Fábrica do Braço de Prata e num impulso que não sei explicar desato a caminhar em direcção ao sul...  Um tempo antes, que não sei bem precisar, tinha metido na cabeça que era urgente e imperioso fazer uma visita ao Museu Nacional do Azulejo, uma coisa há muito adiada, e agora que por vicissitude inesperada me encontrava ali pela zona oriental da capital pareceu-me ser a hora certa, vamos lá então em demanda do Convento da Madre de Deus...  E de súbito encontro-me aflito em pleno Largo do Poço do Bispo, vertendo águas no emblemático urinol público de Marvila, pelos vistos o último da sua espécie e que vai resistindo para alívio de passeantes imunes ao cheiro e dos poucos taxistas da praça, dantes, há muito tempo, era especialmente solicitado pelos camionistas da Sociedade Abel Pereira da Fonseca, os emblemáticos armazéns do vinho oriundo do Bombarral...
Não é por acaso que agora o largo é conhecido como a Praça David Leandro Silva, o industrial que primeiro trouxe comércio e bem-estar social para esta zona da cidade...  


"Os armazéns de vinho do Bombarral"

Sigo depois, mais leve e afoito, pela Rua do Açúcar adiante, assim denominada devido a uma antiga refinaria de açúcar que por ali havia no século XVIII, e a meio passo pelo Palácio da Mitra, uma quinta de recreio construída para os prazeres dos arcebispos de Lisboa, outrora uma residência no campo para estar mais perto do céu e mais longe da azáfama da grande cidade, um sítio propício para brincadeiras, portanto... 

"Imaginação"

"O Narigudo"

Mas deixemo-nos de beatices até porque dou comigo agora em plena Rua do Beato, assim chamada por causa de Frei António da Conceição, também conhecido por Beato António e que no século XVI foi o grande responsável pela construção do Convento do Beato... Entro depois na Rua do Grilo, deixo o cheiro a café e o fabuloso unicórnio para trás, passo ao lado de mais um convento, neste caso o Convento dos Grilos, e delicio-me com a sinalética do trânsito... É tempo agora de Xabregas e de escolher a melhor explicação para o nome de entre várias imaginações, opto pela menos científica e mais popular, por isso mesmo talvez a mais genuína e plausível, a de que Xabregas deriva do antigo termo do povo "Leixa Bregas", (deixa brigas) uma expressão usada no antigo lavadouro da rua quando as lavadeiras brigavam entre si, umas vezes talvez por calhandrice de má-fé e outras porque alguma não respeitasse a fila e a hierarquia...Agora tenho o narigudo pela frente, adivinho o "Frog" ali à espreita e assusto-me com o "Monkey" do Bordalo II, ameaçado pela frenética indústria da construção imobiliária que tomou de assalto esta zona da cidade, será que vai ser destruído sem dó nem piedade?

"Monkey em vias de extinção?"

Não quero nem pensar nisso mas agora que já passei por debaixo do comboio e estou à porta do Museu Nacional do Azulejo, quando passar pela igreja da Madre de Deus não desperdiçarei a oportunidade de rezar pelo futuro da arte deste oriente em vertiginosa transformação...  


"Convento da Madre de Deus"

(Fotos: Jean-Charles Forgeronne)

João Conde Valbom
(Olisipógrafo de Valmedo)

domingo, 16 de março de 2025

 
ESCRITO NA PAREDE - XLIII

"Caracol procura casa..." - Marvila, - Jean-Charles Forgeronne


sábado, 15 de março de 2025


 O MUSEU DA PEQUENA PEDRA POLIDA

Uma enorme e deliciosa surpresa, assim resumo a minha primeira visita ao Museu Nacional do Azulejo, coisa adiada por demasiado tempo e para a qual não encontro desculpa fácil, mas pronto, matei o borrego e de tal forma que já ando a planear uma revisitação, com mais tempo e disposição para pormenores que por agora, certamente, me escaparam... E a surpresa começou logo em plena rua tanta era a gente, especialmente gente jovem e estrangeira, que demandava a entrada do Museu instalado em pleno Convento da Madre de Deus, fundado em 1509 pela suspeita do costume, a Rainha D. Leonor, e à qual, entre outras coisas e para ornamentação de igrejas e conventos se ficou a dever a encomenda de muitas obras de pintura, escultura e cerâmica, nomeadamente azulejos, vindas de todo o país, da Itália, da Flandres, da Alemanha...

"Igreja do Convento da Madre de Deus" - Jean-Charles Forgeronne

Mas a surpresa maior foi constatar a excelente organização do espaço museológico, num local ímpar e bem aproveitado onde se respiram séculos de história, com ênfase na pequena mas deslumbrante igreja que delicia os olhos com os seus magníficos painéis de azulejos... Ademais, tanta obra para descobrir e analisar que uma só visita não permite e entre uma visita e outra haverá certamente tempo para relaxar ou tomar um café no luxuriante jardim ou para admirar calmamente o claustro do convento lá em baixo...

"O Claustro" - Jean-Charles Forgeronne

Mas há um segredo bem escondido no Museu Nacional do Azulejo e que só por instinto e desconfiança não me passou despercebido: quando o visitante se dirige para a saída, convencido que a visita está feita, há uma última sala, escondida lá em cima e só acessível depois de uma longa escadaria mas que vale a pena um derradeiro esforço, lá, no ponto mais alto, a toda a amplitude da sala espera-nos um fantástico painel de azulejos com 23 metros de comprimento que retrata a vista geral de Lisboa de antes do terramoto, pintado em 1700 e resgatado ao Palácio dos Condes de Tentúgal...

"Museu do Azulejo" - Jean-Charles Forgeronne

João Plástico
(Artista de Valmedo)

sexta-feira, 14 de março de 2025

 
AS PEQUENAS PEDRAS POLIDAS

AZULEJO - com origem na palavra árabe, azzelij ou al zuleicha, que significa "pequena pedra polida", designa uma peça cerâmica, geralmente quadrada, em que uma das faces é vidrada.


"Mickey e Castelo de São Jorge" - Fábrica de Sant'Ana, séc XX - Museu Nacional do Azulejo, Lisboa

Jean-Charles Forgeronne
(Fotógrafo de Valmedo)

domingo, 9 de março de 2025

 
O MUNDO-CÃO PELO OLHO DO ARTISTA - I

"Rua Grande, Lourinhã - Sara Rosa

"Rua Grande, Lourinhã", 2025

Jean-Charles Forgeronne
(Fotógrafo de Valmedo)
 
ESCRITO NA PAREDE - XLII



 UMA VOLTINHA POR... - I

... LOURINHÃ! Há muito mais do que dinossauros a descobrir pela Lourinhã, prova disso foi a pequena voltinha de umas centenas de metros que dei pelo centro histórico, nem chegou para cansar mas muito me proveitou... Começou o passeio pelo renovado Largo das Aravessas, boa ideia houve em preservar a memória do poço que desde tempos remotos abastecia a população, hoje está tapado e soterrado debaixo da calçada mas recuperou-se a roda original com que se bombava a água e ali a temos, ainda orgulhosa, para ver, lembrar e imaginar... 



Ali mesmo ao lado, tímida mas resistindo desde 1933, curiosamente o mesmo ano em Hitler assumiu o cargo de chanceler alemão e que viria a mudar o destino deste mundo-cão, deparámos com uma florida bica de braços abertos que outrora era abastecida por água canalizada e que dessedentava os passeantes mas que hoje ali está apenas como símbolo de outros tempos, e é curioso como tantas pessoas que por ali passam nem nela reparam, distracção ou ignorância vá-se lá saber, e não é descabido imaginar que podem até injustamente pensar que alguém se terá esquecido de tirar aquele empecilho do passeio... 
- Bom dia, menino João! - ouço alguém dizer da janela em frente - Que anda a fazer aqui pelas Aravessas tão cedo? - Era a Dona Graziela, talvez a mais antiga moradora do bairro e uma fiel depositária das memórias não só das Aravessas como da Lourinhã inteira. Quem hoje pretender saber de alguma personagem ou facto ocorrido desde meados do século passado até hoje nada melhor do que falar com a Graziela, que conserve ela por muitos e bons anos a sua prodigiosa memória, "Deveria escrever um livro sobre a história da Lourinhã, Grazi!", já lhe disse várias vezes...   


Se deixarmos a bica para trás e dermos meia dúzia de passos deparámos com uma cena digna do Jurassic Park, um Triceratops a deslocar-se em direcção a um fontanário, o enorme chifrudo dinossauro parece estar a morrer de sede talvez por tanta tonelada de erva que os seus 800 dentes trituraram, mas sabem uma coisa? Não se vai safar, pelo menos aqui, é que o fontanário não tem e nunca ali teve água, tal como o bicho é só faz de conta! Foi aliás pela Dona Graziela que soube que aquele fontanário foi há décadas ali colocado apenas para ornamentar, originalmente ele fazia parte do antigo matadouro da vila e era nele que os animais de quarentena para abate bebiam água, bois, cabras, borregos, todo o bicho... Que fazer com o fontanário depois extinto o matadouro? Ao menos assim não se perdeu numa lixeira como tantos outros...


Dali, da beira do Triceratops, não é preciso meia-dúzia de passos, um ou dois bastam, e dou por mim a descer a Rua João Luís de Moura, também conhecida por Rua Grande, outrora a principal via de trânsito que atravessava a vila, hoje rua pedonal e conhecida como a rua do comércio tradicional... Assusto-me com um Velociraptor sobre a minha cabeça e decido refugiar-me no belo edifício da Galeria Municipal, e aí sinto o famoso "efeito borboleta", em que tudo parece estar ligado... Neste caso, "Efeito Borboleta" foi o nome dado à exposição de desenhos, pinturas e diários gráficos da autoria de Sara Rosa, uma jovem artista lourinhanense de apenas 16 anos (!) e que muito promete... Digamos que neste momento está em aprendizagem e metamorfose mas veremos daqui a uns tempos a borboleta em que se tornará...

"Areia Branca" - Sara Rosa

João Palmilha
(Viajante de Valmedo)

quarta-feira, 5 de março de 2025

EU, MODELO IMPACIENTE


- Assim não, James! Mantém-te quieto! - vociferava o J.C, debruçado de forma intimidatória sobre o meu nariz, com um papel numa mão e um lápis na outra - Vá lá, bicheza, isto é rápido, não queres ficar mal no retrato pois não?... E enquanto ele, ora olhando para mim ora traçando freneticamente riscos no papel, eu ia ficando mais e mais impaciente, já não estava a achar muita piada à ideia de fazer de modelo... Tudo tinha começado umas horas antes quando o J.C, nas suas deambulações matinais, tinha descido à vila e visitado a Galeria Municipal onde estavam expostas obras de uma jovem e promissora artista, Sara Rosa, de apenas 16 (!) anos de idade... 
- Olha só para isto, James, já viste a paixão com que estes dois amigos teus foram retratados? Sem dúvida que a artista adora cães! O que achas hein? - e eu ia olhando para uma e para a outra pintura que ele me mostrava naquele aparelho diabólico que todas as pessoas trazem na mão e por vezes à orelha, parece-me ter sido inventado para alienar as pessoas tantas são as vezes que tento entabular uma conversa, ou pedir um biscoito ou apenas uma pequena atenção, uma festinha às vezes e ninguém nos liga, atarefadas para lá e para cá com aquela coisa e, pior, a falarem sozinhas!
- E olha para este, não está tão querido? Sabes, acabei de ter uma ideia! - disse então o J.C. enquanto ia cofiando a barba e olhando bem fundo nos meus olhos...  E aí, amigos caninos, arrebitei as orelhas devido ao desconforto que às vezes as ideias dele me provocam, "O que vai sair daquela cabecinha?", interrogava-me eu... E o que saiu foi: - "Vou fazer um retrato teu, James! Não é uma boa ideia? Afinal tu até és bastante fotogénico e a mim apetece-me dar azas à minha criatividade, só precisas de ficar quieto uns minutos, ok? Tu até tens pinta de ser um bom modelo..." E depois de longo longo tempo, quando ele me mostrou o meu retrato, até esqueci a seca que foi ser modelo, a coisa até ficou engraçada, ou não acham?





James
(Cão de Valmedo)

terça-feira, 4 de março de 2025


ANEDOTAS QUE PARECEM POEMAS - XIII

ESTÁ TUDO LIGADO, Ó PALHAÇO!

Consta que respondendo a um questionário tipo Proust elaborado pela Inteligência Artificial, o grande humorista da nossa praça, Herman José, terá assim respondido a uma das perguntas:

"A piada mais engraçada que conheço? É cor de laranja, pesa 100 quilos e chama-se Trump!"     

Já perguntando à I.A qual a melhor piada que tem para nos contar sobre Trump ela, coitadinha, embora imbatível em termos de rapidez e organização mas que revela ao mesmo tempo estupidez e inaptidão humorísticas de bradar aos ceús baralha-se toda e tanto pode debitar instantaneamente uma alarvidade sobre uma trombeta, outra sobre alguém a tocar tambor, ainda outra sobre um trunfo num jogo de cartas e até outra sobre o joker, esse palhaço que às vezes é o rei do baralho, afinal tudo isso são sinónimos de trump...   
   

Por falar em palhaços, e antes que este mundo-cão perca de vez a piada, mais vale deixar a I.A bem de parte e ligar antes à confiável sabedoria popular, neste caso e a propósito a um antigo provérbio turco:

"Quando um palhaço vai viver para um palácio não se torna num rei, o palácio é que se torna num circo!"


João das Boas Regras 
(Sociólogo de Valmedo)