UMA VOLTINHA POR... - I
... LOURINHÃ! Há muito mais do que dinossauros a descobrir pela Lourinhã, prova disso foi a pequena voltinha de umas centenas de metros que dei pelo centro histórico, nem chegou para cansar mas muito me proveitou... Começou o passeio pelo renovado Largo das Aravessas, boa ideia houve em preservar a memória do poço que desde tempos remotos abastecia a população, hoje está tapado e soterrado debaixo da calçada mas recuperou-se a roda original com que se bombava a água e ali a temos, ainda orgulhosa, para ver, lembrar e imaginar...

Ali mesmo ao lado, tímida mas resistindo desde 1933, curiosamente o mesmo ano em Hitler assumiu o cargo de chanceler alemão e que viria a mudar o destino deste mundo-cão, deparámos com uma florida bica de braços abertos que outrora era abastecida por água canalizada e que dessedentava os passeantes mas que hoje ali está apenas como símbolo de outros tempos, e é curioso como tantas pessoas que por ali passam nem nela reparam, distracção ou ignorância vá-se lá saber, e não é descabido imaginar que podem até injustamente pensar que alguém se terá esquecido de tirar aquele empecilho do passeio... - Bom dia, menino João! - ouço alguém dizer da janela em frente - Que anda a fazer aqui pelas Aravessas tão cedo? - Era a Dona Graziela, talvez a mais antiga moradora do bairro e uma fiel depositária das memórias não só das Aravessas como da Lourinhã inteira. Quem hoje pretender saber de alguma personagem ou facto ocorrido desde meados do século passado até hoje nada melhor do que falar com a Graziela, que conserve ela por muitos e bons anos a sua prodigiosa memória, "Deveria escrever um livro sobre a história da Lourinhã, Grazi!", já lhe disse várias vezes...
Se deixarmos a bica para trás e dermos meia dúzia de passos deparámos com uma cena digna do
Jurassic Park, um
Triceratops a deslocar-se em direcção a um fontanário, o enorme chifrudo dinossauro parece estar a morrer de sede talvez por tanta tonelada de erva que os seus 800 dentes trituraram, mas sabem uma coisa? Não se vai safar, pelo menos aqui, é que o fontanário não tem e nunca ali teve água, tal como o bicho é só faz de conta! Foi aliás pela
Dona Graziela que soube que aquele fontanário foi há décadas ali colocado apenas para ornamentar, originalmente ele fazia parte do antigo matadouro da vila e era nele que os animais de quarentena para abate bebiam água, bois, cabras, borregos, todo o bicho... Que fazer com o fontanário depois extinto o matadouro? Ao menos assim não se perdeu numa lixeira como tantos outros...

Dali, da beira do Triceratops, não é preciso meia-dúzia de passos, um ou dois bastam, e dou por mim a descer a Rua João Luís de Moura, também conhecida por Rua Grande, outrora a principal via de trânsito que atravessava a vila, hoje rua pedonal e conhecida como a rua do comércio tradicional... Assusto-me com um Velociraptor sobre a minha cabeça e decido refugiar-me no belo edifício da Galeria Municipal, e aí sinto o famoso "efeito borboleta", em que tudo parece estar ligado... Neste caso, "Efeito Borboleta" foi o nome dado à exposição de desenhos, pinturas e diários gráficos da autoria de Sara Rosa, uma jovem artista lourinhanense de apenas 16 anos (!) e que muito promete... Digamos que neste momento está em aprendizagem e metamorfose mas veremos daqui a uns tempos a borboleta em que se tornará...
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"Areia Branca" - Sara Rosa |
João Palmilha
(Viajante de Valmedo)