quarta-feira, 26 de abril de 2023

 

SEXTO INCIDENTE TRANSFRONTEIRIÇO

LA CHICA, LA MOCHILA Y EL PORTUGUÉS...

Cinco minutos antes estava tudo bem, a viagem tinha decorrido tranquilamente dentro do horário previsto e faltavam poucos minutos para chegarmos ao hotel, afinal qual o viajante ou turista que não fica contente ao saber que para ir do aeroporto para o centro de Madrid basta apanhar o metro que ainda por cima se revela eficiente, pontual e nada caro? O único senão para quem acaba de chegar e toma contacto pela primeira vez com a emaranhada rede dos transportes públicos da cidade é que, dependendo do destino final, poderá ter que efectuar várias trocas de linha mas isso é um mal menor, desde que não surja nenhum inesperado incidente, claro... E agora, na estação de Goya, tínhamos acabado de entrar numa carruagem da linha 2 e que iniciava já a sua marcha em direcção a Ventas quando sinto a falta de algo: "A mochila! Onde está a minha mochila?" - lanço desesperadamente para a N., numa última esperança de que ela a tivesse consigo...
Mas claro que não tinha, troca de olhares desesperados, tentei raciocinar e rever o filme dos acontecimentos e a coisa tornou-se óbvia: quando saímos em Goya vindos de Mar de Cristal e para consultar o mapa do metro para uma última orientação tínhamo-nos sentado por um breve minuto num banco à beira de uma jovem castelhana de ar moderno e ligada às redes sociais como toda a gente por aquelas bandas anda... 



E então, certo estava agora que a mochila tirada das costas e pousada no banco para consulta do mapa por lá tinha ficado: "É por aqui, vamos..." - lembro-me de ter dito para a N. de guia de viagens aberto e já a caminhar... 
Saímos na próxima estação, galgámos escadas e passadeiras em frenético passo apressado com  as maletas de rodas quase aos trambolhões em busca do cais contrário e lá apanhámos o comboio de volta a Goya, "Já não está lá a mochila!", dizia a N., desconsolada, "Ninguém leva a mochila!"- retrucava eu o mais tranquilo possível - "Ainda pensam que pode ser um atentado terrorista, não mexem..." dizia eu sem muita convicção lembrando-me dos atentados de Atocha... E passados alguns minutos que pareceram uma eternidade estávamos de novo no local do crime mas sem ter a certeza de que era mesmo ali e ao sair do metro a primeira coisa com que nos deparámos foi com duas simpáticas agentes da segurança que lado a lado iam na mesma direcção, ganhei coragem a abordei-as: "Pardón, necessito ayuda! Yo perdi mi mochila..." - Abrandaram um pouco o passo, trocaram um olhar cúmplice e uma delas respondeu: "Lo sabemos, vamos!" e apontou para o fundo da plataforma onde ainda vislumbrei ao longe a bendita chica madrilena a abandonar o banco onde uma abandonada mochila me esperava... Ninguém me disse e também não perguntei mas tenho a certeza de que foi a chica que ligou para a segurança não por temer um atentado (se assim fosse porque continuaria sentada ao lado mochila até as autoridades chegarem?) mas porque naqueles breves momentos terá reparado que se tratava de um casal de turistas portugueses um pouco perdidos e um pouco esquecidos, apenas isso... E por isso, muchas gracias, incógnita chica...


João Palmilha
(Viajante de Valmedo)

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