segunda-feira, 24 de abril de 2023

 

LIVROS 5 ESTRELAS - XXXIII


AS MARAVILHOSAS AVENTURAS DE JOÃO SEM MEDO


É um daqueles livros que pode e deve ser lido em tenra idade como depois ser relido já adulto porque apesar de haver quem o catalogue como objecto de literatura infantil isso não faz justiça à riqueza proverbial da obra e isso aconteceu comigo: depois de há muito tempo ser obrigado pela escola a ler as "Aventuras Maravilhosas de João Sem Medo" acontece que, por curiosidade e nostalgia, voltei a relê-lo recentemente... E se me lembrava apenas vagamente de umas aventuras extraordinárias de um menino agora pasmei com a sabedoria impregnada naquelas páginas, a leitura é tão diferente e tão mais rica que que me frustrou o não ter aprendido então os segredos da vida que agora, já tarde, julgamos saber... Nesta obra, concebida em 1933, José Gomes Ferreira publicava um episódio por semana na revista infantil "Sr. Doutor" e, nas palavras do próprio, por falta de tempo muitas vezes era obrigado a improvisar e que belo improviso lhe saiu já que o seu herói se tornou uma personagem famosa até hoje ao galgar o muro proibido que separa o Mundo Real do Mundo Mágico e assim obrigar o leitor a pensar e a sonhar... E depois, que dizer do surpreendente e desconcertante destino do nosso herói de Chora-Que-Logo-Bebes?

 



"João Sem Medo encolheu os ombros, hesitante:
 - Que sei eu?...  A  verdade é que nestas minhas andanças descobri que, tanto no Mundo da Imaginação Mágica como em Chora-Que-Logo-Bebes impera a mesma Lei tremenda que se pode resumir numa destas palavras à escolha do freguês: Maçada, Repetição, Monotonia, Chatice... Com uma diferença, claro. É que em Chora-Que-Logo-Bebes sofre-se mais. Ou pior ainda: sofre-se menos. Porque lá a pseudodor é tão pífia, tão pilha, tão vil, tão rasca que até se ignora qual a dor verdadeira.
  - Que vais então fazer a essa terra tão seca por dentro e tão húmida por fora, autêntica fábrica de constipações morais?
- Bem... Os homens nunca se contentam... E eu, a falar franco, fartei-me deste Imprevisto-Anárquico do Sonho em que vivi e agora apetece-me voltar a provar aquilo a que chamamos Realidade..."


João Vírgula

(Leitor de Valmedo)

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