terça-feira, 22 de dezembro de 2020


 CURIOSIDADES DO MUNDO-CÃO -  XXXI


PAVONEAR-SE PELA CIDADE...

A caminho de mais uma terrível manhã pandémica que me aguardava no hospital ia eu distraído e em modo piloto automático a rir-me com gosto depois de ouvir mais um genial "Portugalex" quando de repente sou obrigado a parar, já se vislumbrava ali na esquina a Praça da República e já me chegavam os típicos barulhos e a mescla de inebriantes cheiros do mercado da fruta quando duas inusitadas amigas decidem atravessar a rua mesmo à minha frente, ainda por cima fora da passadeira, era preciso ter lata e muita falta de respeito pelos condutores e não é que ainda por cima decidem elas parar e olhar-me desafiadoramente, como se fosse eu quem estivesse ali a infringir as regras?... Claro que saí imediatamente do carro e sem pensar duas vezes disparei à queima-roupa antes que aquelas estúpidas criaturas pudessem fugir!   


"O passeio das comadres" - Jean-Charles Forgeronne

E na sua leveza e graciosidade lá foram as duas pavoas descendo a calçada em direcção a casa, ali bem perto, no Parque D. Carlos... Nas Caldas já ninguém estranha estes passeios matinais destas magníficas aves, hoje foram só as comadres mas por vezes também os machos se vêm pela cidade, por vezes passeia-se a família inteira pelas ruas ainda tranquilas ou por entre as bancas do mercado da fruta e até chegam a entrar em cafés e nas lojas que encontrem abertas, pelos vistos gostam de estudar os hábitos das pessoas e de se porem em dia com as últimas novidades das montras... Mas hoje, pelos vistos, os pavões combinaram encontrarem-se para beber um copo, desabafar e pôr a conversa em dia, coisa de macho!


"Desabafos de macho..." - Jean-Charles Forgeronne

Todos estes sagrados habitantes do Parque D. Carlos são de uma beleza extraordinária, comum à espécie, mas há um amigo aqui que sobressai pela sua raridade, um pavão albino, exactamente aquele que se viu privado das cores deslumbrantes da espécie mas que em toda a sua alvura atrai magneticamente o olhar... Ainda bem para ele que aqui está porque, não se podendo camuflar, em plena natureza não sobreviveria muito tempo aos predadores e dizem que a carne de pavão é saborosíssima, por isso foi iguaria em banquetes reais outrora...   


"À espera que a loja abra..." - Jean-Charles Forgeronne

João Atemboró
(Naturalista de Valmedo)

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