VAI UM MERGULHO NO MAR ESGOTO?
Onde começa o mar? É uma boa pergunta, não é? A resposta, claro, depende do mar a que nos referirmos, o Atlântico, por exemplo, começa já ali à frente a poucos minutos de viagem... E onde e quando acaba o mar? Esta pergunta é mais desconfortável, pressupõe desde logo que o mar tem, como nós, um princípio e um fim, uma vida breve à escala temporal do planeta, afinal não nos diz a história geológica da Terra que outrora onde agora crescem desertos houveram dantes mares e que outrora ilhas eram continentes e que continentes inteiros desapareceram debaixo das águas? Que mar queremos, afinal, um oceano Atlântico vivo e vibrante ou um oceano Plástico ou um mar Esgoto, mortos e tóxicos, e por aí fora desde o Pacífico ao Índico, do Mediterrâneo ao Ártico... De facto, a resposta a todas estas perguntas é só uma: o mar começa onde e quando quisermos, começa aqui, neste preciso local onde estamos, ao não contaminá-lo com lixo e desprezo! Porque quase todo o lixo que a humanidade produz acaba, mais cedo ou mais tarde, nos mares...
![]() |
"O Mar Começa aqui" - EHME |
Foi então no âmbito do projecto "O MAR COMEÇA AQUI", iniciativa que durante este ano pandémico pôs a mão na consciência ecológica de alunos de mais 300 escolas de mais de 80 municípios a darem largas à imaginação e à criatividade para desenharem maquetes alusivas ao mar e à poluição, que EHME, ou seja o artista Marcelo Gomes, foi convidado pelo município de Torres Vedras a fazer uma obra alusiva ao problema da poluição dos oceanos e daí, em pleno chão de um corredor pedonal envolvente ao Parque do Choupal, mesmo defronte do Bang Venue e à beira do Sizandro, nasceu uma bela e simbólica pintura: no vaso superior de uma espécie de ampulheta que marca o tempo boiam detritos desta época (luvas, máscaras, latas, papéis) que, adivinha-se, mais cedo ou tarde irão cair pelo funil para o reservatório de baixo onde ainda nadam em água límpida dois exemplares de Ruivaco-do-Oeste, espécie de peixe exclusiva desta região... E a mensagem passa: é uma questão de tempo e é uma emergência actuar já para salvar os rios e os mares!
E enquanto isso, se pelo país inteiro der de caras com pinturas em sarjetas não estranhe, foram crianças e jovens que as pintaram, para elas o seu mar começa ali... Em São Bartolomeu dos Galegos, por exemplo, bem perto da Lourinhã, vê-se agora um bicho bem característico da sua costa, uma santola, a sair da sua sarjeta com os seus cinco pares de patas carregados de lixo, desde embalagens de leite, sacos de plástico ou garrafas...
![]() |
"A santola de São Bartolomeu" - Jean-Charles Forgeronne |
Sem comentários:
Enviar um comentário