terça-feira, 15 de dezembro de 2020



YOGA, TAI-CHI E OUTRAS MEDITAÇÕES...





Amigos caninos, estava eu de papo para o ar a dormitar sob um sol quentinho e invulgar neste esquisito outono pandémico quando sou desperto por uns gemidos vindos lá do fundo... Aproximei-me pata ante pata, nada de odores estranhos segundo o meu húmido nariz se revelavam no horizonte e, confesso, não me surpreendi com o cenário que encontrei: o J.C deitado ao comprido no chão, pernas ao alto e braços esticados, barriga (abdómen segundo ele) em esforço e uns barulhinhos metálicos que me chegavam às orelhas...
- Eh, bicho, tudo bem? Olha, estou a alongar...
E já há longo tempo que ele desatava a fazer aquilo, depois das corridas diárias prostrava-se ali a esticar-se, a não querer dar parte de fraco mas que, para quem visse, era óbvio o seu sofrimento, clique daqui, claque dacolá, tudo rangia e estalava... E ele, vendo o meu ar inquiridor:
- Não te assustes James, é só o meu esqueleto a voltar ao normal... - e esticava e esticava, e baixava-se a tentar tocar com as mãos nos pés, com sucesso disse ele, com dúvidas digo eu...


E amigos caninos, que dizer daquilo que para nós é uma coisa diária e naturalíssima, acordar depois de uma noite enrolados sobre nós próprios e esticarmo-nos depois para que possamos encontrar o equilíbrio físico e espiritual e que, ao que parece, para os humanoides é uma coisa transcendente que até parece só estar ao alcance de alguns iluminados que depois lhes dão nomes pomposos:  YOGA, TAI CHI, PILATES...
Dizem eles que há que alinhar o corpo com a mente, relaxar, controlar a respiração, inspirar, expirar, entrar em modo contemplativo, ser ZEN, flutuar sobre nós próprios e encontrar a harmonia entre corpo e alma! Mas amigos caninos, não é isso que a nossa espécie faz de um modo natural há séculos?



Mas afinal, amigos caninos, que na convivência com as vossas famílias devem ter alcançado as mesmas dúvidas que eu, qual é o verdadeiro problemas das pessoas? Pois bem, a meu ver, é a dependência material das coisas que lhes proporcionam prazer imediato mas pouca riqueza espiritual duradoira, tudo agora para eles é efémero, é que aquilo que para nós é natural para eles é artificial, controlável, manipulável...
Mas não sabe o J.C que eu nunca me esqueci daquilo que ele perorava, um dia muito tempo atrás e eu sonolento lá o ia ouvindo acerca da placa de titânio que tinha no pé, fruto de uma fractura a jogar à bola em Miragaia, da cicatriz de seis centímetros que tinha na cabeça graças ao choque com um guarda-redes maluco ainda ele era menino, do polegar direito que ficou ligeiramente deformado depois de um remate à queima-roupa do Miguel ainda menino e iniciado em plena praia fluvial de Penacova, do osso saído que lhe deformou o ombro direito depois de uma estúpida queda da bicicleta, ou então da mais recente defesa  in extremis que fez na véspera do seu aniversário e que lhe trouxe, como prenda, um mindinho direito defeituoso, não estica ele nem se alonga....
Como eu o compreendo, amigos caninos, não sei se é apenas sugestão ou fruto da idade, mas ainda uma destas manhãs dei por mim a latir depois de um singelo alongamento ao despertar...


É certo que aquilo que para eles é transcendental para nós é natural, amigos caninos, mas o tempo bate forte em todos, certo? Por isso, vão alongando as vossas capacidades enquanto podem...


JAMES
(Cão de Valmedo)

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