LENDAS E NARRATIVAS - VII
O LENDÁRIO LEÃO QUE AFINAL ERA REAL....
No princípio de 1973 não se falava de outra coisa por aquelas bandas, um bicho terrível ameaçava tudo e todos, um inusitado, gigantesco e apocalíptico leão deambulava, sedento, pelas imediações de Rio Maior, uma pacata urbe desde tempos imemoriais... A televisão e os jornais encarregar-se-iam de tornar os rumores um assunto nacional diário e tudo tinha começado meses antes com a descrição por parte de um popular de um encontro imediato com a terrível fera, na zona da ESTANGANHOLA... Com a desculpa de não ter havido uma única participação apresentada relativa aos eventuais mas reais morticínios operados pela fera junto do gado da região, a GNR de Rio Maior, embora sabedora de estranhas ocorrências, e alinhando pela desconfiança dos moradores da cidade, considerou uma estupidez a presunção por parte dos camponeses da existência de um leão à solta na sua jurisdição...

Para o descrédito de tal alarme social também contribuíria muito a intromissão de uma célebre figura da televisão chamada Fernando Peça, idolatrado num país de brandos costumes e gosto pelas brejeirice, e é vê-lo chegar a cavalo de uma bicicleta por um caminho rural, vestido a preceito de capote alentejano e luvas de pelica que o frio ribatejano de Janeiro não é para brincadeiras, e decidido a gozar com a parvoíce dos locais e usando a sua famosa ironia pergunta a um agricultor (que bem podia ser analfabeto) se o bicho era quadrúpede e se o seu rabo tinha a forma de um pincel.... Claro que as elites da capital, de olhos postos nas notícias da noite da televisão salazarenta e entre uma e outra garfada à mesa de jantar, se desmancharam a rir destas misérias mundanas mas afinal, por último, quem fez figura de grande parvo foi o grande jornalista porque o leão existia mesmo!
Mas o que interessa mesmo é a história do leão bébé criado em segredo para os lados da Estanganhola, depois de ter, por milagre, fugido da jaula de um circo que tinha passado por Rio Maior dois anos antes..
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A famosa reportagem... |
A história termina de uma forma dramática: devido ao pânico que o leão estava a causar por Rio Maior, o próprio José Diogo, aquele mesmo que tinha salvo o bébé leão de morte certa, veste a bata branca que o animal bem conhecia, carrega a espingarda e vai em busca do animal; este, respondendo ao chamamento do seu "dono", acaba morto à queima roupa, numa traição inevitável mas bastante dolorosa...
João Atemboró
(Naturalista de Valmedo)
Já tinha ouvido falar do leão da Estrela, do de Estanganhola nunca! muito menos de Estanganhola. Amigo João, mais uma pérola saída da tua pena seca. Um abraço.
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