quinta-feira, 3 de janeiro de 2019


A DÚVIDA, A ESCOLHA E A ANGÚSTIA...


Com o nascer de um novo ano renasce também um novo mundo de projectos, de ideias, uma nova existência, assente na nostalgia da vida passada (nalguns casos desperdiçada) e na angústia da dúvida sobre as escolhas feitas e dos caminhos que não se tomaram, coisa que talvez só a poesia seja capaz de exprimir pois, como dizia Robert Frost, "poesia é quando uma emoção encontra o seu pensamento e o pensamento encontra palavras"...


O caminho que não escolhi





"Dois caminhos separavam-se num bosque outonal,
que pena não poder seguir por ambos
numa só caminhada, longo tempo fiquei
observando um o mais longe possível
até ele se perder entre o matagal...

Porém escolhi o outro, igualmente belo,

talvez até mais sedutor
pois cobria-o um tapete de viçosa relva,
embora quem por eles passara
os tivesse desgastado de igual modo...

E nessa manhã os dois jaziam cobertos 

de folhas que nenhum pisar enegrecera.
Oh! O primeiro guardei para outro dia
mas sabendo que caminho leva a outro caminho
duvidei se algum dia a ele voltaria...

É suspirando que agora conto esta história,
tanto, demasiado tempo já passado,
dois caminhos separavam-se num bosque e eu
segui pelo menos escolhido
e isso fez toda a diferença...


ROBERT FROST, 1916
(Tradução livre de J.C)


No mês em que passam 56 anos sobre a sua morte, recordar Robert Frost é lembrar um homem que vivia o mundo inteiro, desde as pequenas tarefas artesanais do campo às grandes cerimónias mundanas, aos dezasseis anos começou a dar aulas de literatura enquanto trabalhava em moínhos e fazendas, aos trinta e dois era professor a tempo inteiro e depois dedicou-se a dar conferências na América e na Europa, privando então com os maiores vultos da literatura da época (Ezra Pound, Yeats, Graham Green, E. M. Forster...). A vida não lhe foi fácil, perdeu o pai excêntrico e irascível aos 11 anos, valeu-lhe a mãe culta que lhe mostrou a magia do mundo literário... Mais tarde, em apenas dois anos, sofreu um cataclismo emocional ao perder a amada mulher e ao lidar com o suicídio da sua filha... Deixou-nos poemas eternos e uma grande obra reconhecida por 4 prémios Pulitzer, e é hoje uma figura incontornável em qualquer antologia poética e a sua aura chegou à sétima arte onde é citado, por exemplo, n'O Clube dos Poetas Mortos... Também John F. Kennedy era um fervoroso admirador de Frost ao ponto de, na sua tomada de posse em 1961, ter lido ao povo americano o seu poema "The Gift Outright".



J.C
(Poeta de Valmedo) 

Sem comentários:

Enviar um comentário