quinta-feira, 6 de dezembro de 2018



MISTÉRIO EM BRATISLAVA - IV



Depois de terem jantado no Divný Janko, um estranho mas simpático restaurante frequentado por artistas, estudantes e boémios, situado por detrás do Palácio Presidencial e perto da Universidade, também célebre por ter sido onde foi escrito no longínquo século XIX o poema do hino nacional eslovaco por um então desconhecido poeta-estudante, Janko Matuska, o Inspector Ferreira e o Comissário Rado estavam agora em descontraída e fraterna cavaqueira no mercado de natal.


Palácio Presidencial

A Praça Principal de Bratislava, a HLAVNÉ NAMESTIE, estava à pinha, era difícil dar um passo sem tropeçar em alguém, parecia que todos os cinco milhões de eslovacos tinham escolhido aquela ocasião para sair e confraternizar... Felizmente que tinham chegado cedo e conseguido um cantinho num balcão que muitos agora invejavam, e enquanto um deles ficava de guarda o outro tratava de ir à fonte abastecer-se de vinho quente aromatizado com especiarias e frutos desidratados... Desta vez Rado trouxe algo mais, umas castanhas pecené, ou seja, assadas, e que embora mais pequenas, menos salgadas e com calor a menos do que as que se fazem em Portugal, fizeram as delícias do Inspector.
 - Ao nosso sucesso! - brindou o Comissário.
 - À nossa...

Mercado de Natal
E o sucesso fora estrondoso, não se falava de outra coisa nos meios policiais de todo o mundo... Os dois, embora numa relação nem sempre fácil, tinham não só solucionado um dos maiores roubos da história na Europa como desmantelado uma rede criminosa internacional bastante perigosa...
O fabuloso tesouro roubado em Praga estivera sempre em Bratislava, os ladrões tinham-no transportado Morava abaixo numa barcaça desde Olomouc até Devin, onde o rio desagua no Danúbio, mesmo junto ao lendário castelo que as tropas de Napoleão um dia fizeram explodir. O plano passava por transformar os lingotes de ouro em obras de arte que não chamassem a atenção das autoridades, só assim seria possível passar pelo controlo apertado que tinha sido montado em todas as fronteiras, comboios, estradas e aeroportos, todas as polícias europeias estavam em alerta máximo para capturar os criminosos... E aí entrava a mente genial de Vasco Doninha, o surpreendente cabecilha da organização que devido aos contactos e influência que tinha inerentes ao cargo diplomático que exercia tinha conseguido obter uma falsa autorização do Ministro da Cultura Eslovaco para a exposição de réplicas das famosas estátuas de Bratislava em Lisboa... Vasco apercebera-se de que toda a gente em Bratislava já se habitura nos últimos tempos ao desaparecimento temporário das famosas estátuas que a todos encantavam, fosse por vandalismo, por necessidade de restauro ou sem explicação, não só o MAN AT WORK mas também o SOLDADO DE NAPOLEÃO, o PAPARAZZI, o ANDY WARHOL o SENHOR DA CARTOLA e outras habituaram as pessoas a algum período de ausência e ninguém questionava já o porquê nem por quem tinham sido levadas, era tudo uma questão de tempo...


Castelo de Devin

Guardado o ouro no Castelo de Devin e levado por barco até ao pequeno cais junto do Hrad, era apenas uma questão de transportá-lo através dos túneis da cidade que ligavam a uma fundição abandonada e aos locais onde se exibiam as estátuas...  Semanas antes, sob a diligente vigilância do famoso Cavaleiro Dourado, depois eliminado por se ter tornado ganancioso demais, as estátuas começaram a desaparecer, uma a uma, através das profundezas labirínticas até à fundição para lhes serem tirados os moldes... Depois, naturalmente, as estátuas originais em bronze voltariam a ser colocadas no seu local habitual enquanto que as suas réplicas em ouro seriam oficialmente transportadas para uma fictícia exposição internacional de arte em Lisboa.



O Paparazzi



  - Era um plano perfeito, Inspector Ferreira! - disse o Comissário Rado por entre os vapores de vinho quente. - Mas nós passámo-lhes a perna, hein? A surpresa que irão ter quando chegarem lá e depararem com a polícia à sua espera... Você é um verdadeiro detective e tem um grande futuro! Não quer ficar por aqui e ajudar-me a combater os bandidos de Leste e o crime internacional? Tratarei de tudo, terá todas as condições...
   O Inspector interrompeu: - Comissário, terei todo o gosto em colaborar consigo quando necessário mas... repare, o seu lugar é aqui, o meu é em Lisboa, e já tenho saudades daquela luz e daquele calor...
   - Brindemos então, à nossa e à paz universal! - disparou o Comissário, qual Pai Natal de rechonchudas bochechas vermelhas e olhos brilhantes...


João Pena Seca
(Escritor de Valmedo)

2 comentários:

  1. Inspector Ferreira, julgo que à sua chegada a Lisboa terá em mãos a árdua tarefa de descobrir onde pára a quantia de mais de € 2000000,00, de verbas gastas pelos ilustríssimos parlamentares deste país, onde páram os deputados que têm votado as resoluções do parlamento sem que a sua própria mão tenha votado, questão de difícil resolução uma vez que suas Exªs Excelentíssimas, dão moradas fictícias para sacarem mais umas ajudas de custo à nossa custa. Como vê, pensava o Sr. Inspector que a sua vida seria um conto de fadas à chegada a esta nossa bela capital. Tire o cavalinho da chuva. Bon voyage.

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    1. Camarada Andarilho, posso dizer de fonte fidedigna que o Inspector Ferreira não descansará enquanto não puser esses pulhas todos atrás das grades do Aljube!

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