BICHOS, BICHEZAS E IMITAÇÕES...
- JAAAAAMEESSSSSSSSSS....?
Perante este grito, meio assustador e meio desesperado, como pode um mortal cão a ele reagir? Com estranheza, pondo aquele ar aparvalhado de que não percebemos patavina do que se está a passar? Com um semblante de culpabilidade, olhos no chão e orelhas caídas, assumindo como legítimo o raspanete que se adivinhava? Ou com um corajoso enfrentamento da acusação, olhos nos olhos, consciente de que qualquer que fosse a causa de tamanho escarcéu tudo se esclareceria com a cabal absolvição deste vosso amigo?
A verdade, amigos caninos, é que nem tive tempo para pensar e agora, com o J.C de ar pouco amigo pela frente, não me ocorria nada que eu tivesse feito de errado que levasse a esta situação, não tinha urinado fora do sítio, não tinha voltado a roubar maçãs da fruteira, há muito tempo que não roía o meu tapete de dormir, nada me ocorria...
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Presépio de Valmedo |
Até que vi aquela coisita na mão estendida com ar acusador...
- O que é isto, James?
Aquilo, amigos caninos, era um bichito parvo que ornamentava uma coisa a que as pessoas chamam de PRESÉPIO...
- O que é que te deu para mutilares a pobre da ovelhinha, seu cão safado? - e aqueles olhos arregalados para mim metiam medo, podem crer... - Olha só, agora nem se põe em pé, coitadinha, só com duas patas...
Já vos falei, tempos atrás, sobre o meu fascínio por pequenas criaturas que invadem o meu território privado de Valmedo, ele são grilos, ele são caracóis, pequenos e estúpidos pássaros, lesmas, sei lá... Mas a coisa acaba por ser divertida, menos pata, mais patada, asa fora ou antena desligada, gosto de brincar com os bichos, adoro dar-lhes um verdadeiro safanão e dá-me gozo ver a sua reacção, acho que também eles gostam da brincadeira porque senão dariam mais luta, não acham?
- Já sabes que vais ter castigo, certo? E da próxima, podes crer que te denuncio à PETA ou ao PAN!
A verdade, meus amigos caninos, é que até tive paciência de sobra para com aquela minúscula criatura, ela olhava para mim com ar ingénuo mas provocador, naquela de me desafiar; "Vamos brincar?", ouvia-a eu dizer, e como bem sabem eu não resisto a uma brincadeira, vai daí abocanho-a e desato a correr porta fora! Mas a parva não se agarrou bem e vai de se estatelar no quintal, duas patas fracturadas e equimoses pelo corpo todo... Quem a mandou ser tão imprevidente? Como bem vêem, sou inocente nesta história, apenas queria proporcionar uns bons momentos à pobre da ovelhinha... E depois não percebo o chinfrim armado cá em casa, alturas houve em que não fui tão recriminado por alguns incidentes com outros bichos mas este, ainda por cima com um animalzinho que não se mexia, não falava nem dava troco, leva-me a pensar que os humanóides são mesmo complicados, afinal que importância têm duas patas a menos num bicharoco que nem um centímetro andava? E ainda estou para perceber a importância que as pessoas dão a esta coisa esquisita a que chamam de presépio, talvez um dia consiga perceber....
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Ouvindo o raspanete |
James
(Cão de Valmedo)
Pobre James. Não entendo estes humanos que de humanos às vezes têm pouco. A minha sorte é que conheço bem este cão de Valmedo de duas patas. Ladra mas não morde...
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