domingo, 12 de janeiro de 2025

 LENDAS E NARRATIVAS - XXV

ERAM REIS? ERAM MAGOS? ERAM TRÊS?

Mas que bela história de encantar esta a dos supostos três reis magos que vieram lá do cu de Judas (e que se saiba não é aquele de São Miguel nos Açores) para adorar com as suas oferendas o recém-nascido rei dos Judeus que dormia serenamente numa manjedoura, guiados por uma miraculosa estrela... 
Ora, tendo fé no Evangelho segundo São Mateus (2,1), escrito mais de 70(!) anos após a morte de Cristo, nele consta apenas o seguinte: "Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos vindos do Oriente", não referindo que eram reis, nem quem eram nem quantos eram, apenas assume que eram magos...
Mas, coisa extraordinária e muito comum na Igreja Católica, sempre mestra em adornar acontecimentos e transformar tudo o que é pagão em milagre cristão, só passados 600(!) anos após o nascimento de Jesus é que alguém pio e sábio da Igreja (suspeita-se de Tertuliano) chegou à divina e incontestável conclusão que aqueles magos eram "quase reis", e assim se criou mais uma verdade divina, passaram a ser chamados de reis magos!
Segundo os estudiosos e entendidos no assunto e quanto ao facto de os intervenientes nesta fábula serem magos também é preciso ter em conta que naquela época e naquela região do mundo-cão chamava-se magos às pessoas sábias e eruditas, especialmente as que conheciam e professavam sobre os corpos celestes, magia ou milagres era coisa que não faziam!


Para cúmulo, só passados 800(!) anos depois do evento é que outra sumidade da Igreja foi iluminada e anunciou ao mundo que afinal tinham sido 3 os tais reis magos, nem mais nem menos, o tal número bastante conveniente para fazer pandã com a inevitável Santa Trindade, e assim ficou decretado e validado como verdade cristã insofismável, e ai de quem não cresse, a fogueira não crepitava longe... E foi também por esta altura que se achou necessário baptizar os famosos reis magos, até aí eram anónimos, talvez um pecado, e então anunciaram-se Belchior, "rei" da Pérsia e que ofereceu o ouro, Gaspar, "rei" da Índia e que ofereceu incenso e finalmente, mas não menos importante, Baltasar, "rei" da Arábia e que ofereceu mirra...
Quanto às oferendas parece normal presentear com ouro, ainda hoje o fazemos, o incenso já destoa um bocadinho mas faz sentido, pelo menos purificava o ar do estábulo, agora que raio, mirra? A mirra é uma planta áspera e espinhosa e cuja principal utilidade naquele tempo era o óleo que dela se extraía  e com o qual os Egípcios embalsamavam os seus mortos, representava, portanto, a eternidade... Que raio tinha Baltazar na ideia, ainda o deus-menino tinha nascido e já lhe preparava o embalsamento? Baltazar, sem dúvida o mais interessante dos magos, aquele que afinal só no século XV é que a Santa Igreja descobriu que ele era de raça negra, passando desde então a ser representado como tal! Portanto, talvez nem reis, talvez nem magos, talvez nem três, mas mesmo assim comemoremos  o seu dia, ao menos ficam as prendas...


João Alembradura
(Historiador de Valmedo)

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