sexta-feira, 15 de setembro de 2023

 

OS SONHOS E A VIDA DOS RAPEXINHOS...


Entre outras coisas, há quem diga que deram o nome de RABO DE PEIXE à povoação porque os pescadores locais vendiam a melhor parte dos peixes que pescavam e ficavam apenas com o rabo para comer... Elevada a vila precisamente no dia em que se comemoraram os 30 anos do 25 de Abril, Rabo de Peixe destaca-se em vários aspectos, uns invejáveis, outros nem tanto: tem o maior porto de pesca do arquipélago e também a maior comunidade de pescadores, alberga ainda a maior fábrica de conservas dos Açores mas é a zona mais pobre do país! A vila piscatória navega num mar de desigualdades sociais e miséria onde o flagelo do desemprego impera, por isso é comum encontrar homens a vaguear pela vila sem nada para fazer e 30% dos 10000 habitantes vivem do rendimento social de inserção...



Não espanta pois que as crianças e jovens rapexinhos que encontramos aos magotes sentados indolentemente nas soleiras das portas das casas coloridas sonhem com a oportunidade de um desvio à normalidade de uma vida condenada à pobreza, desejam essencialmente uma fuga para a América, como nos filmes, até porque a fama causada pela série televisiva mundialmente célebre não trouxe nada de novo àquele pedaço de mundo-cão a não ser mais umas excursões de curiosos...    



Há uns anos atrás RABO DE PEIXE quase não fazia parte da oferta turística de São Miguel e aqueles que por lá se aventuravam ou o fazia para ver a obra que VHILS deixou no porto da vila ou então para assistir a um espectáculo do rapper Sandro G., o pai do hip-hop açoreano e talvez o rapexinho mais famoso... Consta até que o músico, entretanto radicado há muito na América, há uns anos já largos e ao descobrir que as pessoas que lhe prometiam uma carreira de sucesso o andavam a enganar ao ponto de não receber nada pela venda dos seus discos, por vingança, decide visitar a terra natal e oferecer 10000 CD's ao povo de Rabo de Peixe... Parece que o pessoal da SATA e a polícia entraram em alvoroço quando depararam  com 100 caixotes e 12 carrinhos-de-mão onde vinha o material, convencidos de que era droga, e só sossegaram quando os cães nada de ilícito encontraram... 



Numa das últimas edições do "Precisamos de Falar", da Antena 3, ouvi alguém dizer que tinha estado em Rabo de Peixe há uns quatro anos e que agora, depois de ter visto a série, tinha que lá voltar para ver a coisa com mais atenção e talvez com outros olhos... Comigo passa-se exactamente o contrário, vi a série antes de lá ter ido e agora que regressei de Rabo de Peixe tenho que rever novamente a série, também para ver a coisa com mais atenção e com outros olhos, até para comparar a ficção com a realidade que lá encontrei...


                                                                                                                      SANDRO G. - Festa

João das Boas Regras

(Sociólogo de Valmedo)

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