segunda-feira, 1 de novembro de 2021

 

CURIOSIDADES DO MUNDO-CÃO - XXXIV

PROCURA-SE: VIVO OU MORTO!

Com os seus mais de cinquenta santos campos VIENA ostenta o glorioso título de Capital dos Cemitérios e tem-los para todos os gostos, desde o imperial Cemitério Central ao lúgubre e curioso Cemitério dos Sem Nome... O primeiro, com os seus 2.5 Km de área composta de campas e floresta é o segundo maior da Europa em tamanho mas ocupa o primeiro lugar em número de sepulturas e que por ser tão grande obriga a que madrugada ainda e antes da abertura ao público seja um campo de caça, caçadores autorizados decretam guerra a faisões, lebres e coelhos, tudo em nome da defesa dos túmulos e das flores por ali depositadas; o segundo, perdido nos arrabaldes da grande metrópole e à beira do rio, é talvez o mais triste de todos porque alberga os cadáveres de pessoas não identificadas que morreram afogadas no Danúbio, sabe-se lá porque razão...  

"Mozart vivo", Burggarten, Viena - Jean-Charles Forgeronne
É sabido que os vienenses adoram cemitérios mas não suportam funerais, comportamento que mereceria talvez ter sido estudado pelos mestres psicanalistas austríacos do início do século XX como Sigmund Freud, Viktor Frankl ou Wilhem Reich, mas essa fobia vienense já tinha sido abordada anteriormente em 1874 por uns tais Felbinger e Hudetz que investiram num projecto de enterros por correio pneumático! A coisa funcionaria assim: os defuntos seriam despachados em cápsulas directamente ao longo de quilómetros de uma conduta pneumática accionada por ar comprimido e que despejaria os restos mortais na sepultura que lhes era destinada! A ideia, autêntica ficção científica para a época, infelizmente não foi para a frente devido aos elevados custos para um sepultamento: um milhão de florins! Ficaram os vienenses a perder, lá tiveram que suportar o imenso desconforto dos funerais dos entes queridos até hoje...

"Mozart morto", St. Marx Friedhof, Viena - Photo by Wikimedia

E hoje, a propósito porque é dia de santos mortos e véspera de outros humildes finados idos e futuros, que a grande roda da vida e da morte não pára, viajemos até ao cemitério de St. Marx, na periferia de Viena, e onde, assim que entramos, damos de caras com um monumento que homenageia MOZART, simplesmente um dos seres humanos mais brilhantes que pisaram este planeta do mundo-cão... De facto nem chega a ser um monumento, é mais uma farsa e uma paródia, apoiado numa coluna partida um anjo com um archote caído e a mão pensativa na cabeça aponta supostamente para o sítio onde o grande mestre foi enterrado, só que é mentira!

"Enterro de Mozart" - Autor desconhecido, Séc XIX - Museu Karlsplatz - Viena

Ninguém sabe hoje onde foi sepultado MOZART e dão-se alvíssaras a quem o descobrir, o génio que compôs mais de 40 sinfonias, 11 óperas, 27 concertos para piano e uma enorme quantidade de músicas de outros tipos, esquecido e abandonado nos seus últimos anos de vida porque estava falido e doente, morreu com apenas 35 anos de idade e foi sepultado numa vala comum, como qualquer miserável sem nome... Os seus restos mortais continuam em parte incerta e consta que no seu funeral apenas um cão acompanhava o cortejo fúnebre!

João Sem Dó
(Musicólogo de Valmedo)

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