AS JANELAS VERDES TÊM OUTROS ENCANTOS...
Às janelas que nem todas são verdes foi a célebre rua buscar o nome para depois o emprestar a todo o bairro envolvente, começa ela após o derrame da Presidente Arriaga no Jardim 9 de Abril, em plena esquina do Palácio Alvor, também chamado, claro, Palácio das Janelas Verdes e que hoje alberga o Museu Nacional de Arte Antiga, para escorrer até à Rua de Santos-o-Velho, umas centenas de metros abaixo... E se foi no bairro de Santos-o-Velho que se instalaram a nobreza e a burguesia lisboeta do século XVIII, então não admira que ao longo da belíssima e real RUA DAS JANELAS VERDES tropecemos com inúmeros antigos palácios e palacetes, prenhes de histórias por contar, como é exemplo maior aquele chamado de RAMALHETE...
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As janelas verdes do Palácio das Janelas Verdes |
"A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente o RAMALHETE. Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas, com um renque de estreitas varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira do telhado, tinha o aspecto tristonho de residência eclesiástica que competia a uma edificação da senhora D. Maria Pia: com uma sineta e com uma cruz no topo, assemelhar-se-ia a um colégio de Jesuítas. O nome de Ramalhete provinha decerto de um revestimento quadrado de azulejos fazendo painel no lugar heráldico do escudo de armas, que nunca chegara a ser colocado, e representando um grande ramo de girassóis atado por uma fita onde se distinguiam letras e números de uma data."
Assim começa "OS MAIAS", a obra-prima de EÇA DE QUEIROZ, que se terá inspirado naquele palacete para a criação da casa lisboeta de Carlos da Maia...
Assim começa "OS MAIAS", a obra-prima de EÇA DE QUEIROZ, que se terá inspirado naquele palacete para a criação da casa lisboeta de Carlos da Maia...
A história e a vida dão curiosa voltas e desconcertantes piruetas como muito bem sabia Eça e que vividamente o plasmou nas suas cenas românticas e realistas, senão repare-se como ele ligou o passado ancestral ao presente ao dotar o Ramalhete de uma aura religiosa que viria a repetir-se quase século e meio depois, como se o grande escritor soubesse que hoje, precisamente hoje, o Ramalhete conservaria esse ambiente eclesiástico ao albergar MADONNA, aquela superstar famosa por quebrar regras e afrontar tabus com um grande crucifixo ao pescoço, qual virgem lançada à fogueira, e que agora religiosamente se entretém a beber o Tejo do alto das suas janelas verdes, aquelas mesmo onde Carlos ia esfumaçar enquanto não chegava a hora da visita à sua amada....
Mas a história, a vida e o ambiente da Rua das Janelas Verdes vão para além do Museu Nacional de Arte Antiga, do Ramalhete ou de outros palacetes, antes estendem-se às igrejas, fontanários ou jardins, deambulam ali pelas travessas e escadarias, pelos recantos dos jardins e entram pelas galerias de arte adentro como a WOZEN ou pelas lojas de design, abancam nas esplanadas de tascas e restaurantes, vivem por ali, de dia e de noite...
João Conde Valbom
(Olisipógrafo de Valmedo)
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