quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019



AS JANELAS VERDES TÊM OUTROS ENCANTOS...


Às janelas que nem todas são verdes foi a célebre rua buscar o nome para depois o emprestar a todo o bairro envolvente, começa ela após o derrame da Presidente Arriaga no Jardim 9 de Abril, em plena esquina do Palácio Alvor, também chamado, claro, Palácio das Janelas Verdes e que hoje alberga o Museu Nacional de Arte Antiga, para escorrer até à Rua de Santos-o-Velho, umas centenas de metros abaixo...  E se foi no bairro de Santos-o-Velho que se instalaram a nobreza e a burguesia lisboeta do século XVIII, então não admira que ao longo da belíssima e real RUA DAS JANELAS VERDES tropecemos com inúmeros antigos palácios e palacetes, prenhes de histórias por contar, como é exemplo maior aquele chamado de RAMALHETE...


As janelas verdes do Palácio das Janelas Verdes


"A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente o RAMALHETE. Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas, com um renque de estreitas varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira do telhado, tinha o aspecto tristonho de residência eclesiástica que competia a uma edificação da senhora D. Maria Pia: com uma sineta e com uma cruz no topo, assemelhar-se-ia a um colégio de Jesuítas. O nome de Ramalhete provinha decerto de um revestimento quadrado de azulejos fazendo painel no lugar heráldico do escudo de armas, que nunca chegara a ser colocado, e representando um grande ramo de girassóis atado por uma fita onde se distinguiam letras e números de uma data."

Assim começa "OS MAIAS", a obra-prima de EÇA DE QUEIROZ, que se terá inspirado naquele palacete para a criação da casa lisboeta de Carlos da Maia...


O Palácio do Ramalhete

A história e a vida dão curiosa voltas e desconcertantes piruetas como muito bem sabia Eça e que vividamente o plasmou nas suas cenas românticas e realistas, senão repare-se como ele ligou o passado ancestral ao presente ao dotar o Ramalhete de uma aura religiosa que viria a repetir-se quase século e meio depois, como se o grande escritor soubesse que hoje, precisamente hoje, o Ramalhete conservaria esse ambiente eclesiástico ao albergar MADONNA, aquela superstar famosa por quebrar regras e afrontar tabus com um grande crucifixo ao pescoço, qual virgem lançada à fogueira, e que agora religiosamente se entretém a beber o Tejo do alto das suas janelas verdes, aquelas mesmo onde Carlos ia esfumaçar enquanto não chegava a hora da visita à sua amada....


O Fontanário das Janelas Verdes

Mas a história, a vida e o ambiente da Rua das Janelas Verdes vão para além do Museu Nacional de Arte Antiga, do Ramalhete ou de outros palacetes, antes estendem-se às igrejas, fontanários ou jardins, deambulam ali pelas travessas e escadarias, pelos recantos dos jardins e entram  pelas galerias de arte adentro como a WOZEN ou pelas lojas de design, abancam nas esplanadas de tascas e restaurantes,  vivem por ali, de dia e de noite...



João Conde Valbom
(Olisipógrafo de Valmedo)

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