DESEMBARQUE NA NORMANDIA - III
E eis-nos finalmente nos jardins de MONET, e se para mim, apenas um curioso na matéria, eles se revelaram um autêntico deleite, não consigo imaginar o que terá sido para o MARTIN, um verdadeiro conaisseur....
E o tempo parou! Ali, naquele idílico recanto, passámos horas de lupa na mão, armados em detectives da natureza, numa investigação minuciosa a cada botão, a cada flor, a cada pé, a cada folha, a cada tronco, a cada árvore, Roger ia chamando a atenção e apontava as curiosidades de cada planta, como estava naquela altura e como iria estar daí a umas semanas e falava das diferenças para as espécies lusitanas... E foi assim que aprendi que as frágeis prímulas são as flores anunciadoras da primavera, as primeiras a revelarem-se ao mundo sem pruridos nem porquês... E embora os nenúfares ainda não tivessem rebentado e invadido a quieta superfície do lago íamos alegremente especulando sobre a incidência da luz sobre a água, pintando telas virtuais à maneira de Monet... E apesar também de muitas outras plantas ainda estivessem por desabrochar, foi um festival para os sentidos deambular por ali e permitir que a paz e a harmonia nos conquistassem a alma... Quando ali estamos apetece mesmo pegar numa paleta e colorir o mundo de tons vivos e luminosos, soltar a alegria que nos invade por gozarmos do privilégio de poder observar tanta beleza, e ela é tanta que chega a parecer irreal...
Subimos então para visitar a casa e o atelier do pintor e foi então que tudo se precipitou...Depois de admirar as várias divisões da casa, cada qual pintada na sua cor, a cozinha azul, a sala de jantar verde, o corredor vermelho ou o quarto amarelo, chegámos ao estúdio apinhado de gente e então vislumbrei lá no canto, um vulto de cartola e bengala numa mão enquanto que com a outra segurava um monóculo através do qual observava minuciosamente uma tela pendurada na parede do fundo...
- Raios, é o Lupin... - balbuciei, mas ninguém me ouviu.
Desci o mais rápido que pude a pequena escada com o intuito de me aproximar da célebre personagem mas, por entre encostos e obstáculos, quando cheguei ao fundo o vulto tinha desaparecido, nem sinal do homem de cartola! Saí o mais depressa que pude para o jardim e olhei para todos os lados mas nem sinal, Arséne tinha mais uma vez escapulido....
- Que foi? Parece que viste um fantasma... - ouvi o Martin dizer a meu lado.
- Se calhar tens razão, ando a ver coisas a mais. - disse eu, duvidando se aquela inusitada aparição tinha sido mesmo um produto da minha imaginação.
- Talvez seja melhor irmos andando, não? Ainda são uns quatro quilómetros que temos que caminhar.
- Deixa-me só ver mais uma coisa - disse eu e encaminhei-me novamente para o estúdio.
E ali estava ela, a Maneporte, a porta grande de ETRETAT, imortalizada por Monet.... O que haveria de especial naquele quadro para merecer a atenção do ilustre cambrioleur? - interrogava-me eu, já convencido que afinal não tinha sido vitima de uma alucinação, Lupin tinha estado mesmo ali e isso era um sinal que grandes mistérios estariam prestes a ser revelados...
- Que conheces tu sobre Etretat? - questionei o Roger, esperançado que me aclarasse as ideias.
- Etre...quê?
- Etretat, uma vilazinha piscatória ali à frente no Canal da Mancha, onde o Monet passou boas temporadas a pintar. - disse eu, apontado para a tela...
- Lamento, mas apenas pesquisei sobre isto aqui, Giverny... - respondeu-me ele, já impaciente...
- Ok, vamos então que se faz tarde...

- Raios, é o Lupin... - balbuciei, mas ninguém me ouviu.
Desci o mais rápido que pude a pequena escada com o intuito de me aproximar da célebre personagem mas, por entre encostos e obstáculos, quando cheguei ao fundo o vulto tinha desaparecido, nem sinal do homem de cartola! Saí o mais depressa que pude para o jardim e olhei para todos os lados mas nem sinal, Arséne tinha mais uma vez escapulido....
- Que foi? Parece que viste um fantasma... - ouvi o Martin dizer a meu lado.
- Se calhar tens razão, ando a ver coisas a mais. - disse eu, duvidando se aquela inusitada aparição tinha sido mesmo um produto da minha imaginação.
- Talvez seja melhor irmos andando, não? Ainda são uns quatro quilómetros que temos que caminhar.
- Deixa-me só ver mais uma coisa - disse eu e encaminhei-me novamente para o estúdio.
E ali estava ela, a Maneporte, a porta grande de ETRETAT, imortalizada por Monet.... O que haveria de especial naquele quadro para merecer a atenção do ilustre cambrioleur? - interrogava-me eu, já convencido que afinal não tinha sido vitima de uma alucinação, Lupin tinha estado mesmo ali e isso era um sinal que grandes mistérios estariam prestes a ser revelados...
- Que conheces tu sobre Etretat? - questionei o Roger, esperançado que me aclarasse as ideias.
- Etre...quê?
- Etretat, uma vilazinha piscatória ali à frente no Canal da Mancha, onde o Monet passou boas temporadas a pintar. - disse eu, apontado para a tela...
- Lamento, mas apenas pesquisei sobre isto aqui, Giverny... - respondeu-me ele, já impaciente...
- Ok, vamos então que se faz tarde...
Roger Martin, embarcando para Paris |
Já dentro do comboio que nos levaria de regreso a Paris dou por mim aparvalhadamente a olhar para um cartaz publicitário afixado na estação, nem mais nem menos que o anúncio da estreia do recente filme sobre ARSÉNE LUPIN...
Afinal ele anda por aqui, pensei eu, lembrando-me do livro sobre a agulha oca de Etretat que tinha dentro da mochila...
-Não sejas tolo, estás a imaginar coisas, disse a parte racional que ia sobrevivendo na minha cabeça...
- Estou é a precisar de descanso, disse eu inteiro para mim mesmo mas, abanando a cabeça e sorrindo para o mundo exterior, continuava desconfiado de que algo importante me estava a escapar....
Entretanto ETRETAT não me saía da cabeça e só me vinha à lembrança o desembarque dos aliados nas praias da Normandia em Junho de 1944, evento que seria o prenúncio do final da II Guerra Mundial, à qual Monet já não assistiu mas que previu ao doar à cidade de Paris aquele espaço magnífico de contemplação e paz, uma parte do seu jardim transplantado para a capital, e pensava eu que serviu para a I, serviu para a II e servirá para todas as guerras, seja a III ou a do dia-a-dia.... E depois o meu pensamento voou para a agulha oca que poderá albegar imensos tesouros, quiçá o dos Templários...
Entretanto a carruagem retomava a marcha e foi quando em sentido contrário, para LE HAVRE, passava por nós outro acelerado comboio e foi então que o vi espreitando pela janela! O vulto negro de cartola, bengala numa mão e monóculo na outra, a sorrir para mim...
- Roger, a nossa próxima expedição é irmos a Etretat e descobrir um tesouro....
Jean Charles Forgeronne
(Fotógrafo de Valmedo)
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