sábado, 21 de dezembro de 2024

 FOTOGRAFIA NÃO É ARTE?

Charles Baudelaire tinha apenas 5 anos de idade quando surgiu a primeira fotografia, obra do inventor francês Joseph Niépce em 1826, viveu portanto de perto o impacto que essa modernice teve na opinião pública e no meio artístico, tendo-se tornado ao longo da sua atribulada existência um inimigo ferrenho dos fotógrafos e figura de proa do movimento de críticos que negava qualquer valor artístico à fotografia, diziam eles que a imagem era feita pela máquina e não pelo fotógrafo... Para Baudelaire, "a fotografia não passava de um refúgio para todos os pintores frustrados"!...
Até se entende esse ódio à fotografia por parte do poeta, afinal Baudelaire foi um arauto do simbolismo em oposição ao realismo, ele odiava a realidade concreta, essa imperfeita visão do mundo, para ele abordar o mundo-cão sem elementos místicos e imaginários, sem um apelo ao inconsciente e à sugestão e sem exposição de sentimentos era uma falsidade, que dizer pois da fotografia que era apenas um procedimento técnico, bastava carregar num botão, uma coisa sem qualquer exigência de dom artístico? 

"Birch Mood" - Antonin Slavicek, 1897 

Certo é que apesar dessa resistência e desse escárnio o advento da fotografia conturbou drasticamente o mundo da arte e da cultura, especialmente da pintura paisagista e retratista que se viu obrigada a procurar outras abordagens à interpretação da realidade inacessíveis à máquina fotográfica, tendo então, por causa disso e segundo os entendidos, surgido correntes como o cubismo ou o expressionismo, ...
Hoje, passados quase dois séculos, ninguém põe em causa que a fotografia é arte e que o fotógrafo pode ser mesmo um artista ao trabalhar com sensibilidade a cor, a luz e a sombra...

"Bosque nas Cesaredas" - Jean-Charles Forgeronne, 2024

E é nisto tudo que vou pensando enquanto me perco pela Galeria Nacional de Praga neste domingo de manhã de visita grátis, agora mesmo estou defronte de uma enorme tela de Antonin Slavicek, conceituado pintor impressionista checo que em 1897, ou seja trinta (!) anos após a morte do cáustico Baudelaire, teve a ousadia de pintar um bosque de bétulas nos arredores da cidade, sem medo de comparação com um qualquer fotógrafo amador que retratasse outro bosque qualquer, de outras árvores quaisquer, até noutra estação do ano, até noutro lugar qualquer a milhares de quilómetros de distância, como por exemplo um pequeno bosque nas Cesaredas que bem conheço e para o qual fui imediatamente transportado assim que deparei com a pintura... Como a arte é universal, pensei... E pode não ser algo de extraordinário, pode até não caber na definição de obra de qualidade, mas a minha fotografia, 200 anos depois do bosque de Slavicek, não foge à premissa essencial da arte: revelar a beleza deste mundo! 


Jean-Charles Forgeronne
(Fotógrafo de Valmedo)

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