UM OSSO DURO DE ROER
Nem de longe imaginava o bico de obra em que entretanto se tornou a minha existência por estes dias, amigos caninos, os últimos tempos tinham até sido bastante pacatos e rotineiros aqui por Valmedo, grande parte deles passados refastelado ao sol que o frio não tem dado tréguas... Há três luas atrás fui até à cozinha fazer companhia ao J.C, atraído pelos aromas irresistíveis que me chegavam da panela -"Vai sair daqui um belo minestrone, James!" dizia-me ele enquanto mandava mais umas coisas para a panela...
-" E se te portares bem ainda ficas com este belo osso do chambão para te entreteres, que tal?"
E eu concordei na boa, amigos caninos, afinal aqueles pedaços de carne que ele ostentava cheiravam-me bem e que saudades eu tinha de roer um belo osso... Assim sendo, fiz-me de esfinge sonolenta encostado à parede aguardando pelo prémio prometido mas a coisa não se tornou fácil, é que o pitéu exigia muita manobra e tempo de cozedura e foi com disfarçada impaciência que aguentei quedo até ao momento em que o chef, depois de ter minuciosamente desprendido a carne de dois ossobucos, se abeirou de mim e disse: -"Toma, hoje mereceste!"
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"Eu, encarando o ossobuco..." |
O problema, amigos caninos, é que me parece ter sido vítima de uma armadilha, aqueles dois pequenos ossos depressa viraram problema! A primeira impressão que tive ao olhar para eles e depois de os cheirar é que seriam um belo repasto, ainda para mais com um buraco no meio seriam de rápida e saborosa roedura mas depois de ter lhes ter chupado o gostoso tutano é que foram elas, duros como cornos se revelaram e mesmo os abocanhando a toda a força apenas lhes fazia eu umas leves incisões e ainda por cima tinha que ouvir as palavras gozonas do J.C:
-"Então, James, estás a fazer cócegas ao osso ou quê?
- "Fica sabendo que esse é um osso especial, é cortado da perna da vaca e é muito saboroso, não achas?"
E eu claro que concordava com os olhos, saborosos e bem cheirosos lá eles eram mas não havia meio de se desfazerem e, reparem bem, amigos caninos, no meu orgulho nunca deitei a toalha ao chão, o problema é que já lá vão três dias de abocanhadelas minhas e os ossos continuam inteiros, até já sonho com eles e cheguei a levá-los para a cama com o intuito de os estraçalhar enquanto dormia...
- "Hummm... Já percebi, James, o que estás a fazer é uma escultura em osso, tipo aqueles artistas que gravam figuras em ossos de baleia, certo?"
E eu, sem saber se era provocação ou incentivo, ainda por aqui continuo obcecadamente a tentar desfazer os malditos ossobucos...
James
(Cão de Valmedo)
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