O MEU AFILHADO BOND
Enquanto eu corria que nem um louco da parede ao muro e do muro à parede ladrando para o carteiro que chegava na sua irritante máquina barulhenta, cumprimento usual entre nós, o J.C, que por acaso também vinha a chegar da sua corridinha matinal, entre bons dias e qualquer coisa que percebi como "ele só ladra, não morde, é um coração mole, se lhe fizer uma festinha vai ver que ele se derrete!", recebeu uma carta do meu amigo de estimação e enquanto a lambreta se afastava desconfiada parou, olhou para o envelope, virou-o outra vez e leu novamente com aquele ar de surpresa como costuma fazer quando descobre um xixi meu fora do sítio: "Olha JAMES, é para ti! Recebeste uma carta!"
- Para mim? Só pode ser engano! - respondi de chofre... - Desde quando os cães recebem cartas? - reforcei, botando ar de intrigado mas já a pressentir sarilhos, já me vinha à ideia aquela impertinente gata preta da vizinha, de coleira ao pescoço e guizo insuportável e que uma bela manhã desleixadamente se aproximou demasiado do meu território e a quem ferrei os dentes, ao de leve ficara eu convencido mas agora, com esta novidade, pensava eu se a coisa descambara para o sério e a bichita teria ficado com ferimentos graves, viria a caminho um processo judicial?
- Pois, mas é mesmo para ti... Vais ser padrinho!
- O quê?
- Fica sabendo que a tua irmã BOLOTA, filha como tu do King e da Blackie, deu à luz um rapagão tal qual tu e escolheu-te como padrinho, vais ter de escolher um nome para ele e ser como um segundo pai, acompanhá-lo na seu crescimento e estar sempre presente quando ele precisar de ajuda...
E quando vi as fotos que chegaram naquele envelope, amigos caninos, então o meu coração derreteu mesmo, que maravilhosa criatura era aquela, tão parecida comigo afinal, ainda hoje quando sorrateiramente consigo entrar no escritório do J.C lá vislumbro uma fotografia minha com a mesma idade e tão parecida...
- Então, como vais chamar a este biscoitinho teu afilhado?
- BOND! James Bond! - respondi inconscientemente, mas afinal que outro nome mais apropriado?
E assim, amigos caninos, a nossa vida pode mudar num instante sem que nada possamos fazer para o evitar, esta existência não depende apenas de nós e agora, eu que ainda não sou pai, penso tanto em mim como no Bond, quem diria, sinto-me como se tivesse sido pai, e tantas são as coisas que tenho para lhe ensinar, meu deus canino, que nem sei por onde começar... Bom, talvez seja melhor começar pelo princípio, era uma vez uma inocente criatura que desperta num perigoso mundo-cão...
James
(Cão de Valmedo)
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