DREAM PEOPLE, REAL PEOPLE...
Esta manhã acordei a sonhar com a noite passada e com a lembrança das belas palavras do Sérgio Godinho, ali estavam elas coladas ao tecto do meu silencioso quarto a pairar sobre os meus ainda atordoados olhos:
"A noite passada um paredão ruiu
Pela fresta aberta o meu peito fugiu
Estavas do outro lado a tricotar janelas
Vias-me em segredo ao debruçares-te nelas
Cheguei-me e disse baixinho: Olá!
Toquei-te no ombro e a marca ficou lá...
O sol inteiro caiu entre os montes
E então olhaste
Depois sorriste
Disseste: Ainda bem que voltaste!"
Mas depois a coisa ganhou sentido ao lembrar-me que a noite passada tinha sido mesmo especial, eu e o meu amigo Andarilho tínhamos voltado ao Bang Venue após meses de viral afastamento e ao matar essa essa dolorosa ausência senti-me como que a derrubar esse pandémico paredão que teima em isolar-nos das boas convivências: "Ainda bem que voltaste!" - ouviu-se dizer... E esse regresso que há pouco tempo era um sonho tornou-se realidade, voltamos para ouvir e estar com pessoas sonhadoras e pessoas de sonho, os DREAM PEOPLE, jovem banda lisboeta que apresentou ao vivo o seu mais recente álbum chamado "Almost young", um manifesto sobre o tempo e o conturbado adeus à juventude e em que ficou patente a identidade da banda, um dream pop como alguém os catalogou mas que pareceu ir além disso, música profunda e multicolorida onde se explanam os medos e as angústias mas também as paixões, a solidão e claro, o amor, enfim, a vida passada e futura, os sonhos ao fim e ao cabo, quem não sonha não vive disse um dia um filósofo de Valmedo... E como lançou timidamente o Francisco Taveira, o vocalista, aquele foi um encontro entre dream people e real people, entre jovens adultos sonhadores e a bem composta assistência, adulta e saudosa das emoções da juventude e que por isso rapidamente se deixou levar pelo onírico som e começou a sonhar alto também, de resto só ficou um reparo acústico, as palavras afogavam-se por vezes no caleidoscópico som dos instrumentos mas valeu bem a noite, aqueles jovens prometem e muito, a seguir atentamente os seus sonhos e as suas dores de crescimento...
E depois, como nos sonhos, a noite compôs-se, acabou-se a falar de músicas e de filmes de uma vida, de sonhos, afinal que mais há?
João Sem Dó
(Musicólogo de Valmedo)
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