sexta-feira, 9 de julho de 2021

 
TASCAS E ANTROS DE PRAZER - XIII


ONDE COMER? SIGA O CÃO!

Chegados ao centro de ALCOUTIM, embora ainda com tempo para chegar a Castro Marim a horas de almoço, tive uma veneta e disse para a Maria Nana:
   - E que tal se almoçasse-mos por aqui? Parece-te bem?
E assim foi, lembrava-me de que este era um sítio famoso pelas enguias mas não tinha trazido comigo como há trinta (!) anos atrás o Guia de Portugal do Expresso e fiquei à nora, que raio, como se chamava aquele restaurante de eleição a que o guia se referia? Neurónios à baila, memórias esquecidas, nariz ao alto em plena Praça da República a catar o vento aromático e eis que reparo num cão, ladino, de orelhas hirtas, paciente, mirando uma mesa repleta de jovens turistas espanholas, talvez de Sanlúcar de Guadiana, mesmo ali da outra banda ou então de muito mais longe, vá lá saber-se, do País Basco ou das Astúrias, porque não, ou então da Andaluzia, bem mais perto... 


O cão, rafeiro, alma simples da plebe canina, provavelmente com dono devido ao asseio do penteado, respeitava a distância de segurança pandémica e simplesmente aguardava que alguma alma caridosa lhe oferecesse uma degustação dos petiscos... Outras ofertas gastronómicas haviam por ali, na praça e não só, mas o raio do cão não arredava pé, tinha que ser ali, pensei... E depois de pensado e dito em voz alta não há volta a dar, era ali...
 

Já sentados na esplanada do BH, assim se chamava a tasca, optei por enguias fritas em vez do ensopado das mesmas enquanto a N. foi presenteada com umas divinais costeletas de borrego... Afinal, o bicho-cão tinha razão, era ali que se devia comer! O branco à pressão estava na temperatura ideal, as enguias certas no sal e na fritura, as costeletas e as suas batatas fritas sem reparo! E o cão lá continuava, qual implacável fiscal...

Preço adequado para tamanha qualidade, contas feitas para o IVAUCHER, para ajudar à digestão decidimos dar uma voltinha pela margem do Guadiana e eis que a minha boca se abre de espanto, que raio era aquilo que eu vislumbrava? Uma cena tipo Bordallo II, estaria a sonhar, seria do branco à pressão? Não, agora vinha-me ao pensamento, tinha lido algures há bastante tempo qualquer coisa sobre Alcoutim e o artista, que surpresa! A lontra! E o cão, que por ali andava de focinho ao alto absorvendo os aromas do verão algarvio e ribeirinho... E  no Guia do Expresso de Julho de 1995, que encontrei no baú das memórias mais antigas e prestes a expirar, encontrei esta maravilha, à época as ofertas de restauração referiam-se a restaurantes que já desapareceram, claro, ou então situados nas proximidades, Guerreiros do Rio, por exemplo... 



João Palmilha
(Viajante de Valmedo)

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