LEICESTER, O ESQUILO E O FOTÓGRAFO...
OU
O ESQUILO HUMILHADOR DE FOTÓGRAFOS
Neste preciso momento em que os meus dois indicadores começam a martelar o pobre teclado do meu desktop eis que me assaltam em catadupa mil e uma emoções cruzadas que me fazem parar para tentar pôs as ideias em ordem PRONTO! Desculpem, voltei depois de fechar os olhos, respirar o mais fundo que me foi possível e, de cérebro oxigenado (espero) vamos lá então a isto: a culpa é toda de um miserável esquilo-vermelho! Pronto, tive que o dizer porque é a verdade absoluta, durante semanas e semanas demandei nas minhas corridas matinais o chamado pinhal da câmara onde em 2018 foi instalado o DINO PARQUE da Lourinhã para tentar criar amizade e fotografar um par de esquilos que uma bela manhã surpreendi no meio da floresta a bebericar duma poça de água fresquinha criada pela chuvada nocturna, só que assim que puxei do telemóvel para o retrato já eles fugiam cada um para seu lado, treparam aos pinheiros e saltavam dos ramos frágeis para outros ramos ainda mais frágeis e de repente, de objectiva a cegar-me os olhos, deixei de os ver no meio daquela cruel sombra que os protegia, nem um disparo para amostra... Raios! Fuck, diria se estivesse em Leicester... Mas o orgulho fala sempre mais alto e curioso lá fui pesquisar quando cheguei a casa e constatei que aqueles par de bichos, fossem eles um casal de família feita ou a fazer, amigos em paródia ou apenas amigas ou amigos coloridos, eram uns dignos representantes da espécie Sciurus vulgaris, mais conhecido entre nós por esquilo-vermelho... E no dia seguinte e durante muitos dias seguintes percebi perfeitamente a sapiência de quem há muitos séculos assim baptizou aqueles bichos, é que o grego sciurus significa "sentado à sombra da sua cauda", de skia (sombra) e oura (cauda), e sombra não foi o que me faltou desde então!
Sempre que voltei a encarar aqueles esquivos esquilos e isso, repare-se, só acontecia de tempos a tempos, eles lá devem ter a sua agenda muito preenchida e que eu ainda não percebi até hoje, sempre que a sorte me sorria lá retratava eu com fúria e ânimo, com alguns percalços á mistura porque de tanto nariz ao alto várias vezes me estatelei ao tropeçar em calhaus e ramos. desta é que é, lembro-me de pensar na curta viagem até casa mas depois, fotos descarregadas, era a desilusão completa, nem com auxiliares de luz, contraste, brilho ou outra coisa qualquer, era desastre após desastre, apenas uma sombra entre sombras, agora era-me evidente porque o raio da criatura é vermelha e é-o porque assim se confunde na perfeição com os ramos acastanhados dos pinheiros... Ainda se o bicho fosse de outra cor, branco ou cinzento, lembro-me de ter gritado por vezes para os espíritos da floresta... Como era possível não conseguir uma foto de jeito? Ainda por cima eles lá ficavam algum tempo quietos a desafiar-me, até pareciam estar a posar mas depois, no final era sempre o mesmo, umas silhuetas escuras dissimuladas nas sombras das árvores...
E é então que já desistente, derrotado e frustrado algo acontece, cai-me nas mãos uma foto do meu caro amigo Pedro Batim que há anos vive em LEICESTER, ele fotógrafo como eu, embora amador porque o seu dom e mester principal é criar moda, (is a really fashion designer, do you know?), em que ele mostra mostra ao mundo o seu squirrel de estimação da cinzenta espécie Sciurus carolinensis oriunda da América do Norte, pelos vistos um pacato e amigável esquilo que vem ao seu jardim amiúde dar os bons dias e comer o breakfast e que ainda para mais posa para o retrato com a maior tranquilidade! Que traição, vociferei eu, que injustiça, pensei, porque não me aparece aqui um daqueles bichos cinzentos à mão de fotografar, porque só encontro daqueles demónios vermelhos que é impossível apanhar? Mas depois, enlevado pela beleza e simpatia do bicho do Batim perdoo num ápice estas agruras vindas de LEICESTER, cidade aonde nunca fui mas espero conhecer um dia, é que eu fui daqueles que torceu pelo clube da cidade na época 2015-16 em que milagrosamente se sagrou campeão inglês contra todos os tubarões e outros dinossauros e que tenho ainda outro carinho especial pela cidade: foi lá que nasceu um dos meus favoritos e um dos maiores escritores vivos da actualidade: James Barnes, que a propósito acaba de publicar o seu último e magistral romance "O Homem do Casaco Vermelho", "The Man in the Red Coat", mesmo a propósito...
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"Grey Squirrel" - Photo by Pedro Batim |
Jean-Charles Forgeronne
(Fotógrafo de Valmedo)
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