quinta-feira, 13 de maio de 2021

 

BELAS LETRAS E SONS DE ÁFRICA...

Ontem, sob o signo da identidade, da língua oral e escrita e da actividade política, na foz dos Livros a Oeste desaguaram três pujantes correntes de desassossego e referências culturais não só do mundo da língua portuguesa mas também de outras línguas nativas e outras crioulas linguagens, a começar por uma referência do rap e um dos fundadores do hip-hop em Portugal, Timóteo Santos, um híbrido são-tomense e torriense mais conhecido por NBC (Natural Black Color) e neste particular caso o acrónimo diz muita coisa sem ser redutor...

"Não deixes passar uma vida toda

para teres certezas

daquilo que te incomoda,

então acorda já!"


Foto: João Andarilho
... e também de Torres Vedras veio outra voz inquieta, desta vez com raízes na Guiné-Bissau e em busca de liberdade para o amor e outras coisas maiores, Karyna Gomes, de voz cristalina e âncora na poesia militante herdada de raízes próximas e históricas e que encantou a parca mas sortuda plateia ao honrar a poesia de Amílcar Cabral apenas com voz e batuques dos finos dedos...

"Lagrimas kinsi                                                     "Vieram então as lágrimas

I intchi dentru di un korson di mimu                      e elas transbordaram do meu coração mimado

Alegria prumesa son di momentu                          A alegria é promessa passageira

Amor livre stau na sangui                                      Está no teu sangue viver livre

Anta gosi gora i kuma i kuma                                Mas e agora, como é que vai ser?

Pa no fikal sin"                                                        Vamos deixar assim?"


Amor Livre - Karyna Gomes

... e finalmente, não de Torres mas sim de Maputo e via redes hertzianas chegava-nos ao auditório Dr. Afonso Rodrigues Pereira  a carismática presença do jovem moçambicano Amosse Mucaveli, jornalista e poeta que faz questão de denunciar a miserável injustiça de algumas existências, por exemplo no poema "Mafalala":

"Os sinos da munhuana estão velhos,

tocam nas enrugadas horas da esperança

murcha, o cansaço das lembranças estampadas

nas casas de madeira e zinco.

E no chão cimentado por pântanos  

as rãs fazem ajustes de contas com o eco do abandono..."

E acabou por ser mais uma de muitas trocas de ideias e experiências brilhantemente dirigida por João Morales...


João Vírgula
(Leitor de Valmedo)

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