TASCAS E ANTROS DE PRAZER - XII
A RATOEIRA E OS TORDOS DO ALVIELA...
Quem, ao passar pelo centro de Parceiros de São João e naquela curva diante do famoso restaurante da aldeia decide abandonar a Estrada Nacional 3 e cortar à direita ou à esquerda, conforme o sentido, talvez não saiba que ali mesmo nasce a Estrada Nacional 361, rota que o levará a atravessar os concelhos de Alcanena, Alcanede, Rio Maior, Caldas da Rainha, Cadaval e Bombarral, até desaguar na rotunda defronte da Adega Cooperativa da Lourinhã, a escassos metros de Valmedo, mas o que interessa mesmo aqui é a curiosidade de bastarem poucas centenas de metros decorridos depois dessa decisão tomada para, ao entrar em Casais Romeiros, se reparar numa casa térrea e modesta à beira da estrada e à sombra de um majestoso e vetusto pinheiro, é o FOJO, casa conhecida primeiro apenas como a taberna do Fojo e onde se procurava abrigo à beira da generosa lareira nas tardes invernosas ou se refrescavam os humores sujeitos aos tórridos calores dos estios ribatejanos e depois, muitos anos mais tarde, quando para além dos petiscos de final de tarde se aventou a servir pastagens mais elaboradas, como a casa de pasto do Fojo, mas isto serve apenas para os locais que conhecem a história da família porque para os viajantes ocasionais e turistas de passagem ela se apresenta hoje como a casa de pasto "O PINHEIRO"...

Ora, que melhor nome para dar a um sítio como este se afinal, segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, fojo significa uma armadilha para caça de animais ferozes que consiste num buraco profundo, cavado no chão e disfarçado com ramos e galhos? É que nem é preciso ser feroz, qualquer alminha por mais santa e pacata que seja pode facilmente cair na ratoeira tais são os aromas que daquelas chaminés se desprendem, tais são as iguarias que respeitam a tradicional cozinha portuguesa e confeccionadas com esmerada mão da Gouxaria, seja carne ou peixe, polvo ou bacalhau que a coisa depende do que houver de melhor no mercado de ocasião... Além disso, a simplicidade e a generosidade daquela gente cativa qualquer comensal, simpatia a rodos e um até à próxima e volte sempre, e acabamos por voltar sempre, é irresistível, é uma romaria! E por mais feroz que seja o apetite ninguém sai dali insatisfeito...
Da última vez que lá tinha caído tinha sido presenteado com um robalo na brasa, acompanhado de batata cozida, legumes e uma genuína alface daquelas terras do sopé da serra de Santo António, para além, claro, de um branco fresquíssimo e perfumado, que nisso de pinga aquela gente sabe... Agora, de viagem há poucos dias atrás e neste miserável período de confinamento fui agradavelmente surpreendido pelo atendimento take-away, simpático e eficiente como sempre mas que não deixa de ser como quem diz: toma, paga e desaparece daqui!
E lá tive eu que desandar dos Casais Romeiros até um sítio tranquilo para degustar o borrego no forno que ia ali a fumegar no banco do morto, onde parar, onde comer tranquilo aquela maravilha, perguntava-me eu e não me ocorreu outra coisa do que demandar os Olhos de Água, as nascentes do Alviela, já ali e em caminho...
Abancado à beira do rio, não sei precisar se a violar alguma lei confinatória, mas agora isso também já não interessa, nunca um borrego no forno me soube tão bem porque até sabia a pecado, e sabem quem me deu razão? Os inúmeros TORDOS que como por magia num instante se abeiraram de mim vindos do nada! Afinal quem disse que os pássaros não gostam de um grande petisco? De repente eram dois no chão outonal atapetado de folhas, depois mais três ou quatro e empoleirados nas árvores nuas então eram às dezenas, e claro, como do meu repasto só sobraram uns míseros ossos não consegui ser-lhes muito útil.... Mas ficou a experiência, os tordos cheiram muito bem e são uns óptimos críticos gastronómicos, afinal o borrego estava soberbo!
João Ratão
(Chef de Valmedo)
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