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"Escarpas" - Jean-Charles Forgeronne |
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Quem, como eu hoje fiz, subir os 115 degraus da escadaria que dá acesso da Praia da Malhada até ao alto da arriba irá decerto parar algumas vezes e olhar com outra atenção para trás em direcção ao mar revolto, é que a subida será inevitavelmente feita por entre ecológicos escritos na parede que alertam para a fragilidade do planeta e para a necessidade de o preservarmos... Não se sabe quem escrevinhou mas ainda bem que o fez, para mim aquele manifesto tem ar de juventude irrequieta e activa e isso alegra-me porque não pode haver melhor sinal e garantia de que o futuro poderá ter ainda alguma viabilidade, afinal serão as gerações mais novas que irão herdar esta casa comum e única que nós, mais velhos, lhes vamos deixar já com muitas doenças e algumas delas incuráveis!
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"O planeta não é reciclável" - Jean-Charles Forgeronne |
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"Praia da Malhada" - Jean-Charles Fotgeronne |
Mas continuemos a agradável subida, eis que venço o último degrau e chegado ao alto viro à direita e desço pela Alameda do Golfinho e mesmo à entrada da Praia da Areia Branca, defronte da Pousada da Juventude, (e que melhor sítio?, pensei eu depois), ali estava ela, primeiro indefinida porque é transparente ou não fosse feita de arame de malha fina mas depois pujante na sua mensagem, uma BALEIA que deu à costa qual mensagem desesperada numa garrafa lançada de um mar distante... É que esta baleia mostra através da sua transparência o lixo plástico que intoxicam as baleias reais, aqueles monstros marinhos com milhões de anos de história no lombo... No mínimo, dá para pensar um pouco, ou não?
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"A BALEIA" - Jean-Charles Forgeronne |
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
Quem, ao passar pelo centro de Parceiros de São João e naquela curva diante do famoso restaurante da aldeia decide abandonar a Estrada Nacional 3 e cortar à direita ou à esquerda, conforme o sentido, talvez não saiba que ali mesmo nasce a Estrada Nacional 361, rota que o levará a atravessar os concelhos de Alcanena, Alcanede, Rio Maior, Caldas da Rainha, Cadaval e Bombarral, até desaguar na rotunda defronte da Adega Cooperativa da Lourinhã, a escassos metros de Valmedo, mas o que interessa mesmo aqui é a curiosidade de bastarem poucas centenas de metros decorridos depois dessa decisão tomada para, ao entrar em Casais Romeiros, se reparar numa casa térrea e modesta à beira da estrada e à sombra de um majestoso e vetusto pinheiro, é o FOJO, casa conhecida primeiro apenas como a taberna do Fojo e onde se procurava abrigo à beira da generosa lareira nas tardes invernosas ou se refrescavam os humores sujeitos aos tórridos calores dos estios ribatejanos e depois, muitos anos mais tarde, quando para além dos petiscos de final de tarde se aventou a servir pastagens mais elaboradas, como a casa de pasto do Fojo, mas isto serve apenas para os locais que conhecem a história da família porque para os viajantes ocasionais e turistas de passagem ela se apresenta hoje como a casa de pasto "O PINHEIRO"...
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021
ENCONTROS IMEDIATOS DO CORREDOR
Vendo a cada custosa passada a copa das árvores a crescer lá no cimo da subida para Valmedo ou afogando-se lentamente pela íngreme descida que desagua no mar da Peralta, explorando os segredos do planalto das Cezaredas ou equilibrando-se pelos trilhos das falésias entre Paymogo e São Bernardino, o corredor que explore a natureza selvagem deste oeste profundo não consegue fugir a um fatal destino, pode demorar o seu tempo mas vai coleccionando encontros imediatos com muita bicharada bravia que felizmente ainda vai resistindo às ameaças que as intensivas actividades humanas representam para os seus habitats naturais... De facto, nesta nossa vidinha cada vez mais tecnológica e virtual vamo-nos esquecendo que a natureza que nos rodeia, muitas vezes até à volta da nossa própria casa como é o meu caso aqui em Valmedo, está viva e cheia de bicharada curiosa, que o diga eu que nas minhas corridinhas e caminhadas por aí já me cruzei com um javali a atravessar o caminho à minha frente e que nem reparou em mim, já dei de caras com uma gineta em contra-mão em pleno trilho do Vale da Cornaga, já surpreendi um cão vadio sentado a contemplar o sol poente, parecia estar ele a fazer o seu yoga e que depois ao dar por mim se revelou ser afinal uma raposa tal era o seu magnífico rabo de uma pelagem rubra, para além de asnos tresmalhados, rebanhos de cabras, cavalos e éguas a comerem das suas banheiras e outros bichos mais, não falando das cobras e outros répteis ou das magníficas aves marítimas que revolteiam nas falésias quando o exercício é à beira-mar ou então das águias e outras rapinas que avisto quando demando a floresta ou ainda das perdizes aos magotes e aos mais raros mas pouco assustadiços faisões... E cada um desses encontros imediatos me deixa fascinado e torna o dia especial, pena é que só aconteça de vez em quando...
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"O texugo de Valmedo" - Jean-Charles Forgeronne |
Em relação à distinção popular entre o texugo-cão e o texugo-porco não passa de confusão porque trata-se da mesma espécie, só que de Inverno o bicho engordou e apresenta uma pelagem mais espessa e chama-se-lhe então porco enquanto no Verão, mais magro e com menos pêlo, chama-se-lhe cão! O texugo é também de uma coragem a toda a prova, luta sem tréguas e sem medo perante serpentes venenosas, lobos, raposas e até ursos, vencendo muitos desses combates e de entre muitas outras curiosidades dignas de serem descobertas salienta-se o facto de enterrar os seus mortos! Apesar de tudo, as principais causas de morte da espécie são os atropelamentos por automóveis e a desflorestação!
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021
LIVROS 5 ESTRELAS - XXIII
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"Murakami em Maratona, depois da primeira maratona..." - Foto: M. Kageyama |