"Já todos sabíamos que não podíamos tirar fotografias durante a viagem. Não era preciso perguntar, tinha sido sempre assim. Quando nos deslocávamos, nunca se podia fotografar. Era fácil ouvir na cabeça a voz da guia a repetir-nos dezenas de vezes por dia, com sotaque coreano:
No pictures, please.
(...) Depois, o guarda olhou para mim e, em inglês, disse:
Camera.
(...) Tinha sido avisado mil vezes, mas, ao longo do tempo, tinha acabado por fotografar muito mais do que era permitido. Era fácil e tentador fazê-lo: a minha máquina era pequena e silenciosa.
(...) Aquilo que eu não sabia era quais poderiam ser as consequências se o guarda apanhasse essas fotografias. E não saber era muito pior do que saber porque, assim, acabava por imaginar. E eu estava na Coreia do Norte."
in "Dentro do Segredo", José Luís Peixoto
Sem comentários:
Enviar um comentário